sábado, 2 de junho de 2012

Tirando a Tranqueira da Bagagem

Não perdia a oportunidade de fazer uma
graça. O perfeito exemplo da minha
bagagem cheia de tranqueira... 
Escola de Treinamento e Discipulado (ETED) não era o lugar ideal para um cara como eu, pelo menos era o que a lógica humana ditava. Mas como tudo o que havia acontecido comigo até aquele momento não tinha nada a ver com lógica humana, os próximos dias, semanas e meses eram o prólogo de anos de muitas aventuras. 






Barbara (Alemanha), Kenneth (Hawaii),
Ruth (Inglaterra), Matt (Washington),
Eu e Paul (California).



Não éramos uma escola normal. Em pouco tempo éramos como uma família aprendendo juntos. Eu ficava um pouco de fora por não falar Inglês, mas o pessoal me animava e tentava traduzir para que eu pudesse participar. Aproveitávamos cada momento livre para sentar e conversar, conhecer uns aos outros, brincar, contar as histórias de nossas vidas e trocar experiências. Aos poucos fui percebendo que algumas das minhas histórias não eram apropriadas para o contexto de nossas vidas. O papo era diferente. Eu estava acostumado com a minha galera na Ford, ou  com meus amigos de adolescência onde o tema central das conversas era contar das minhas aventuras, noitadas e motéis. 


Bill Payne (Canada) um dos
meus professores favoritos.
Algumas semanas após o início das aulas eu decidi que deveria terminar o namoro com a Anita (minha primeira e única namorada nos 4 anos que estive na Espanha). Aquele relacionamento passou a ser uma distração desnecessária, pois o que eu queria naquele momento era aprender mais e mais sobre o Deus da Bíblia. 

Na ETED, descobri que a Bíblia é uma obra de arte e que se eu coloco o meu foco em uma pincelada que o artista deu na tela, eu acabo perdendo a oportunidade de desfrutar da obra completa. A Bíblia descreve Deus de uma forma tão profunda, que é possível conhecer o Seu caráter e seus atributos através dela. A Bíblia não é um livro complicado e impossível de se entender, ela é, na verdade, um testamento de amor inspirado pelo Criador para toda a humanidade. 

Aula na ETED com Gary McKinney
Na ETED eu também aprendi muito sobre eu mesmo. Aprendi principalmente através de tentar praticar o que ia aprendendo da Bíblia, mas também através dos meus relacionamentos e das convivências do dia a dia. Quando Deus entra na jogada, as coisas que tiram a paz das nossas almas começam a aparecer. Pouco a pouco a tranqueira da bagagem começou a sair à tona.


A primeira tranqueira a aparecer se chama "falta perdão." Descobri que perdoar é uma tarefa muito difícil e, às vezes, dolorosa, principalmente quando existem feridas emocionais envolvidas com situações ou pessoas - e quanto mais próximas estas pessoas, maior é a dor. Também é muito difícil perdoar quando não há arrependimento e um pedido de perdão por parte da pessoa que nos causou o mal. Mas o mais difícil de tudo é pedir perdão!    


Entendi que eu precisava pedir perdão e perdoar. Então, pedi a Deus, em oração, que me trouxesse à memória todas aquelas situações e as pessoas que eu havia ferido ou que me haviam ferido durante os meus 21 anos de vida. Escrevi uma longa lista com o que eu entendia ter feito para magoar e ferir a outros e também o que haviam feito para mim. Foi então que me deparei com três pessoas a quem eu tinha a maior dificuldade em perdoar: 

A mim mesmo-
Tem burradas que fazemos na vida, que ficam conosco por muito tempo. Meses, anos e as vezes ficam conosco para o resto de nossas vidas. E eu carreguei varias dessas comigo ate' chegar na ETED. Lá eu entendi que Deus queria tirar esta carga dos meus ombros. 

Em um dos primeiros posts deste blog (Porque eu sai do Brasil em 1992?), eu escrevi brevemente sobre um vazio emocional que levei por muitos anos depois de terminar um namoro de quase três anos com a Janaina. Não tinha percebido que nunca havia me perdoado por ter sido o causador do rompimento daquele relacionamento. Não me perdoava por tê-la enganado e traído tanto, mas principalmente por ter desvalorizado e ferido alguém que havia se doado tanto em seu próprio detrimento. 

Também tive dificuldades em me perdoar por ter defraudado tantas pessoas, principalmente aquelas que eu usei na tentativa de preencher todo o vazio da minha alma. Puro egoísmo. 

Eu me perdoei. E com o passar dos anos fui tendo oportunidades de pedir perdão a várias pessoas. Sete anos atrás escrevi uma carta para a Janaina onde lhe pedi perdão por tudo que fiz.   

Luciana- 
A Luciana marcou minha vida mais profundamente do que eu jamais poderia ter compreendido ate que nasceram meus filhos. Aquela gravidez e o aborto marcaram minha vida e mudaram meu rumo. Hoje olho para trás e vejo o quão difícil tudo aquilo deve ter sido para aquela menina de 16 anos. Ela teve que enfrentar tudo e todos por mim. Não sei se sua mãe a forçou a cometer aquele aborto, mas em um determinado momento eu tive que perdoa-la e perdoar também sua mãe. Espero que se algum dia ela encontre este blog e leia este post, ela saiba que eu a amei e também a perdoei. 

Meu pai-
Minhas primeiras memórias do meu relacionamento com meu pai, são de ter um pai alcoólatra. Não me lembro de um beijo do meu pai em mim quando criança, nem de um abraço. Mas me lembro dele chegando bêbado em casa, me lembro das confusões e conflitos com minha mãe e do medo que sentíamos todos. 

Também me lembro do meu pai superando os vícios, se tornando um homem em busca de Deus. Me lembro do meu pai tendo um encontro com Deus. Mas mesmo com toda a transformação que presenciei, a distância emocional entre nos permaneceu. Era como se não tivéssemos um relacionamento. 

Estatísticas mostram que um menino que cresce sem uma conexão emocional com seu pai tem 20 vezes mais chances de acabar na cadeia do que um menino que tem um sadio envolvimento emocional com seu pai. Brincar de carrinho, brincar de lutinha, sair para dar uma volta no quarteirão juntos, declarar aprovação verbal, dizer eu te amo, afirmar minha masculinidade (para que eu não tenha que prova-la de forma egoísta sendo promíscuo)... tudo isso é parte de um relacionamento sadío de um pai com seu filho. Eu não tive. Mas e dai? 95% dos meninos da minha geração não tiveram! Meu pai não teve.

Não estou culpando meu pai pelas minhas escolhas erradas. Mas isso não muda o fato de que eu queria muito ter intimidade com ele. 

Eu tentei de todas as formas que sabia, conseguir a atenção do meu pai. Por meus próprios atributos, o mais natural para mim foi tentar impressionar meu pai com minhas habilidades atléticas, mas o meu pai nunca esteve presente nas minhas conquistas e quando eu chegava todo feliz com uma medalha conquistada, meu pai "nem tchum".  Acho que me viu jogar vôlei uma vez, futebol de salão uma vez, basquete nenhuma vez. 

A próxima etapa foi rebelião contra a sua autoridade. Esta foi a maneira de tentar conseguir alguma atenção. Fazer coisas erradas me proporcionava alguma atenção do meu pai - mesmo que fosse negativa - era melhor do que nada. Foi então que o que meu pai pensava já não me importava mais. 

Depois que eu perdoei meu pai, eu fiquei livre para entender e receber o amor que ele tem por mim. Imediatamente comecei a conversar com meu pai por cartas e telefonemas sobre tudo isto até que tive a oportunidade de olha-lo nos olhos e fazer um concerto. Meu pai não teve um modelo para tentar fazer melhor. Ele perdeu seu pai com nove anos e logo teve que ir morar com parentes em São Paulo. Hoje, nosso relacionamento é repleto de amor e eu creio que recebo dele o amor e a admiração que desejava ter recebido durante aqueles anos da minha formação.

Deus-  
Parece até arrogância dizer que eu tinha uma pendência com o Criador do Universo... mas é isso mesmo: era pura arrogância. O meu problema com Deus era não conseguir entender o porque dEle não atender um desejo do meu coração, algo que lhe pedi muitas vezes e por muitos anos. 

Em um determinado momento simplesmente aceitei o fato de que Deus não se importava com este "detalhe" da minha vida, mas aceitei tal fato com ressentimento guardado no coração. Este ressentimento criou uma barreira entre nós. 

Mas olhando para traz e vendo que nos últimos meses Ele havia estado tão presente, cuidando de cada detalhe da minha vida, eu fui aprendendo que Ele sim queria estar presente na totalidade da minha vida

Quem sou eu para ressentir e não perdoar a Deus quando a Bíblia diz que "... Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores." Romanos 5:8

Ele morreu para pagar uma divida minha 2000 anos atrás. Em outras palavras, Ele deixou um cheque assinado e em branco para cobrir minha dívida, por mais alta que fosse... a dívida foi paga por completo. Que amor é este? Deus aceitou Jesus - seu único filho - na cruz como pagamento perfeito, como um cheque assinado e em branco.

Perdão não tem relação nenhuma com as nossas emoções. Eu não preciso sentir disposição para perdoar. O perdão faz muito mais pela pessoa que perdoa do que pela pessoa perdoada. 

Eu fiz um concerto com Deus e lhe perdoei em meu coração.



No próximo post: "Sevilla 1992: Eu aprendi Inglês dormindo."
Kenneth Hubik - Meu mano.
Participação no meu aprendizado do Inglês de uma forma não muito ortodoxa...




   






















2 comentários:

  1. Oi Adriano, eu ia fazer um comentário sobre o perdão, mas quando li que seu próximo post é sobre aprender inglês dormindo. Essa é nova! No Pentecostes os discipulos falaram as línguas daqueles presentes na reunião, estou curiosa para saber o seu!?!?!
    Sobre o perdão, concordo com vc, é uma decisão, não um sentimento. O único que tem o poder de esquecer faltas é Deus, Infelizmente, nós não conseguimos ter amnésia, mas podemos decidir perdoar quem nos machuca.

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  2. Caramba Marli... talvez eu esteja distraindo os leitores do tema principal :( criando uma expectativa grande sobre o próximo post... De qualquer forma, obrigado por acompanhar meus textos e por comentar! A lição aprendida e vivida sobre o perdão nunca mais me abandonou. Hoje sou um homem livre de amargura e ressentimentos. Procuro perdoar rapidinho e vivo em paz. Beijao!

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