sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A História de um Amor Impossível - Parte 2

No meu último post intitulado "A História de um Amor Impossível - Parte 1" eu comecei a contar sobre uma história de amor que se arrastou por 6 anos. O ano é 1996. A cidade é Atlanta, USA. Sona e eu nos encontramos para conversar após 4 longos anos de espera por aquele momento. 

Conversamos brevemente sobre os acontecimentos dos últimos anos de nossas vidas, sobre nossas famílias e finalmente começamos a conversar sobre o que havia acontecido em Barcelona, em 1992.

ABRINDO UM PARÊNTESIS...

Logo depois de conhecê-la em 1992, eu fiz um compromisso com Deus de que não assumiria nenhum compromisso nos próximos 4 anos, ou seja, nada de namoradas. O fato de que teria que esperar outros 4 anos para revê-la com certeza me motivou a esperar. 

Mas não era somente isto: eu sabia que precisava de uma profunda transformação no meu caráter ("Tranqueira na Bagagem: O Eu que Ninguem Nunca Viu"), pois eu ainda lutava contra "o Velho Homem" dentro de mim. A expectativa de reencontrá-la me fortalecia para seguir firme neste "árduo compromisso". Aos 21 anos eu me propus a não ficar nem namorar ninguém, nada de beijos por 4 anos - e nada de sexo ate' o casamento. 

Infelizmente, não consegui ser 100% fiel ao meu propósito. Entre 1992 e 1993, eu ainda dei algumas mancadas e me deixei envolver emocionalmente algumas vezes - mas a partir de um certo momento, no final de 1993, consegui controlar meu impeto e parei de andar por ai beijando a mulherada. Quanto ao sexo, mantive um celibato por longos anos, pois a última vez em que havia mantido uma relação sexual tinha sido na minha despedida do Brasil em 1992. Muitos não compreendiam, mas eu necessitava daquele tempo. 

ABRINDO MEU CORAÇÃO COM SONA...

Durante nossa caminhada, abri meu coração com toda sinceridade e muita intensidade, pois não sabia se teria outra oportunidade. Sem medir as consequências (até mesmo por não conhecê-las) a surpreendi com a seguinte pergunta:

“- Sona, você quer se casar comigo?”

Sona parou completamente espantada. Olhou para mim sem acreditar no que estava escutando. Me disse:

"- Adriano, eu não posso me casar com você. Meu pai jamais aceitaria. Você não entende. Sou Armênia e tenho que me casar com um homem de descendência Armênia para dar continuidade a nossa cultura...""

"- Sona... E se eu fosse até à Síria conhecê-lo? Eu não hesitaria se ele me desse uma oportunidade."

"- Você e eu somos muito diferentes, de mundos e culturas extremamente diferentes... E você é mais jovem que eu e isto seria inaceitável na nossa cultura." 

Eu simplesmente não podia acreditar no que estava ouvindo. Eu tinha 25 anos e Sona 26.

ABRINDO MEUS OUVIDOS...

Nós homens somos realmente limitados na nossa capacidade de escutar. Se você não acredita, pergunte para a minha linda esposa de 10 anos...

Hoje entendo que na minha ansiedade, eu não estava escutando o que a Sona estava me dizendo. Em nenhum momento ela disse que não queria se casar comigo. O que ela estava tentando me dizer era que haviam expectativas sobre sua vida desde que ela nasceu e que "importantes diferenças culturais" faziam a minha proposta algo intransponível na sua maneira de ver. 

Mas apesar de estar a um metro de distância dela, olhando-a fixamente, eu não estava simplesmente escutando o que ela me dizia - como disse antes, um problema bastante comum entre nós homens. 

Não me lembro muito bem quanto tempo passamos juntos naquela tarde. Mas ao final de nossa conversa eu ofereci a ela um tempo para pensar e me responder... E lhe dei até o final da conferência da qual participávamos, ou seja, 4 dias para que ela decidisse se casar comigo e ir em contra de tudo o que ela sempre soube sobre o casamento... (as vezes 
não acredito quão imaturo um ser homem apaixonado pode ser!)   

Hoje reconheço que eu não estava capacitado para lidar com a situação devido às barreiras culturais entre nós. Eu jamais poderia tê-la pedido em casamento naquele momento e daquela forma. Sona também não estava preparada para me dar uma resposta, pois não pertencia a ela o direto de decidir com quem se casaria. Ela nasceu destinada a se casar com um homem escolhido a dedo por seus pais. 

Os dias se passaram e Sona e eu conversamos outras vezes. Em cada oportunidade, ela continuou dizendo que um casamento entre nós seria impossível... Na última vez que conversamos ela me disse que eu deveria esperar. Mas até quando esperar? Outros quatro anos? Nos separamos mais uma vez e eu fiquei sem uma resposta, sem uma definição. 

Ela regressou a Síria e algumas semanas depois me escreveu pela primeira vez em quase 5 anos. De acordo com sua carta, no momento em que escrevia, ela estava sentada na praia, observando o Mar Mediterrâneo a 11.000 quilômetros de distância. Ela me contou sobre a sua vida de volta a Síria onde trabalhava como engenheira civil. Me contou também que sua mãe havia sido diagnosticada com câncer. Quanto a nós dois, ela me pediu que tivesse paciência.

ABRINDO MÃO DO SONHO... 

Enfim, eu cansei de esperar. Aos 25 anos de idade, há mais de 4 anos sem namorar, minha paciência havia se esgotado. Após 4 anos, eu precisava ouvir algo assim: "- Adriano, eu creio que vale a pena e estou disposta a lutar com você. Eu também creio que não há nada impossível para Deus. Eu sei que Ele pode mudar o coração do meu pai. Venha à Síria. Vamos tentar!" 

Hoje sei que as mulheres às vezes falam em códigos que nós, homens, somos incapazes de decifrar. Foi assim que em Setembro de 1996 eu desisti de continuar vivendo este sonho e me voltei totalmente para o cumprimento de um outro: ir ao Egito e morar lá em 1997.

Em Agosto de 1997 Sona e eu nos encontramos no Cairo - só que desta vez eu não "fui pra cima" - fiquei na minha e a tratei com cordialidade porque a apenas alguns meses atras, havia iniciado um noivado com a Diana Sharp. Em Outubro de 1997 fui a Síria pela primeira vez. Sona e eu nos encontramos outra vez e trabalhamos juntos com vários grupos de jovens Armênios. Da Síria fui a Aman na Jordânia, onde conheci sua irmâ.

Em Dezembro de 1997, Diana faleceu nos Estados Unidos em conseqüência de um terrível acidente automobilistico na Pensilvania (logo escreverei sobre isto). 

Em 1998 voltei a Síria e desta vez conheci o Sr. Bamboukian o pai da Sona. Só que desta vez, eu não estava em condições de tentar reviver aquele romance antigo devido a recente perda da minha noiva Diana. Desta vez, com mais conhecimento da cultura Sírio- Armênia, conhecendo-a melhor, e um pouco mais de maturidade, tivemos uma excelente oportunidade conversar sobre tudo o que havia acontecido conosco. 

Confesso que deixei a Síria muito balançado, mas não reascendi o romance que um dia houve entre nós.         



Sona (a esquerda), Leila e Maged em Allepo, Siria, 1997. 

     
Muitas vezes me perguntei o que havería acontecido se tivesse agido com mais maturidade em Atlanta em 1996? Será que foi por minha falta de perseverança e compromisso que a Sona e eu não nos casamos? Nunca saberei.  

O que sim sei, é que minhas escolhas, boas e más afetaram minha vida em momentos crucias. Algumas vezes respondi com humildade e maturidade  e ví a benção de Deus na minha vida. Outras vezes, fui soberbo, rebelde e independente e ví a disciplina corretiva de Deus. 

Mas o melhor de Deus ainda estava por vir.







  
      

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A História de um Amor Impossível - Parte 1

JULHO 1992, BARCELONA, ESPANHA.

Porque escrever sobre uma história de amor que não foi bem sucedida? 
  1. Porque com ela aprendi lições culturais muito importantes.
  2. Porque cometi erros (e espero ter aprendido com eles).
  3. Porque eu pensava que Deus tinha uma pessoa feita especialmente para mim e se eu perdesse a oportunidade, acabaria solteiro para sempre.
  4. Porque esta historia mostra que "quem tem pressa come cru e quente."
  5. Porque Deus escreve reto sobre as linhas tortas que traçamos.
Depois de passar semanas inesquecíveis em Sevilla, finalmente chegamos a Barcelona. Estávamos a uma semana da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos - e o clima na cidade era fantástico. Estávamos hospedados nas periferias de Barcelona, mas nas semanas seguintes, faríamos incursões diárias ao centro da Cidade e aos arredores do Estádio Olímpico de Montjuic.

Colégio Salesiano de Mataro', onde morei com outros 5.000 jovens
de varios países do mundo por várias semanas durante as Olimpíadas de Barcelona 1992.


Fomos uma das primeiras equipes a chegar no Colégio Salesiano onde estaríamos hospedados pelo próximo mês. Logo na primeira noite, conheci um grupo cujo os integrantes eram procedentes de vários países. Entre outras pessoas, conheci Sona, uma jovem, de origem Armênia, mas que nasceu e cresceu em Holms, na Síria. Conversamos brevemente, mas imediatamente me interessei em saber mais sobre ela. Naquela época eu era uma "esponja cultural", pois queria saber de tudo sobre todos... principalmente, porque eu começava a ter um interesse muito especial pelo Oriente Médio, mas também porque agora eu podia conversar em Inglês.

Nos dias seguintes, com a chegada dos outros grupos ao colégio eu não tive mais oportunidades de conversar com Sona. Eu a via diariamente, mas sempre estávamos ocupados e rodeados por, aproximadamente, outras 4.998 pessoas participando do congresso internacional da JOCUM, que antecedeu os Jogos Olímpicos.

Estar em Barcelona durante as Olimpíadas foi uma experiência maravilhosa. No congresso conheci pessoas com as quais mantenho amizade até os dias de hoje. 

Entre estas pessoas, gostaria de destacar minha amizade com a Miia Ylikoski – atualmente Miia Gomes. Miia é da Finlândia, nossa amizade foi provada pelos duros testes do tempo e da distância. Já se passaram 20 anos e durante todo este tempo de amizade, o respeito e o amor que tenho pela Miia permanecem intactos. Conheci sua família, na Finlândia, e ela a minha, no Brasil. Esta é uma outra historia, para um futuro post aqui na Coluna.

No meio de toda aquela multidão, meus olhos buscavam pelos olhos da mulher Armeno-Árabe. Meu coração ansiava por mais contato com ela... Queria fazer mais perguntas, saber mais sobre ela, sobre seus planos para o futuro e saber se haveria alguma possibilidade de conhecê-la melhor.

Em nossa segunda e última conversa, em 4 longos anos, eu consegui seu endereço - e também lhe disse que queria uma oportunidade para conhecê-la. E foi só.

Apesar de todas as inúmeras cartas que escrevi nos anos seguintes, eu nunca soube nada mais sobre Sona. Nem ao menos tinha uma foto que alimentasse meus sonhos. Nada. Mas havia uma certeza em meu coração: eu a veria de novo durante os Jogos Olímpicos de Atlanta. Então eu esperei, pois esperar era tudo que me restava fazer.

Durante os próximos 4 anos muitas coisas aconteceram - como seguirei escrevendo aqui nesta coluna. Vivi os melhores anos da minha vida em Torrejon de Ardoz, Espanha. Conheci pessoas fantásticas que acrescentaram muito a minha vida. Também dei inúmeras "pisadas na bola", mas em nenhum momento olhei para trás com saudades das coisas que me prenderam no passado, pois a minha nova vida com Jesus me preencheu.

MAIS UM MILAGRE...
Quatro anos se passaram e eu continuei escrevendo minhas cartas e enviando-as para Sona, em Holms, na Síria. Em Junho de 1996 eu estava no Brasil e fui jogar futebol com uns amigos e, numa jogada de mais pura ignorância futebolística de um jogador do time adversário, sofri uma fratura no tarso (um osso) do meu pé esquerdo. Na mesma noite fiz a radiografia que constatou a fratura e já sai do hospital com o pé engessado.

Fiquei bastante triste com a fratura porque estaria trabalhando com futebol durante toda as Olimpíadas, em Atlanta, e logo com um grupo de jovens americanos que iria comigo ao Brasil.

Algumas semanas mais tarde estava participando de um evento, de uma Igreja Evangélica, quando uma senhora se aproximou de mim e pediu para fazer uma oração por mim. Ela orou para que o meu pé fosse completamente curado. Sai da Igreja andando e sem as muletas. Na mesma semana eu regressai ao médico e foi constatado, através de uma segunda e uma terceira radiografia, que o meu pé estava completamente curado! O osso estava completamente restaurado e os médicos não conseguiam explicar.

SEM RODEIOS...
A última vez que escrevi para Sona foi logo depois que o meu pé foi curado, a um mês do nosso reencontro em Atlanta (Olimpíadas 1996).

Eu me recordo do momento em que fui informado que o grupo proveniente do Oriente Médio havia acabado de chegar... Fui imediatamente em direção ao local onde estavam e assim que cheguei meus olhos encontraram Sona. Quatro anos depois... Será que ela havia recebido minhas cartas? Será que se lembraria de mim? Meu coração pulsava dentro do meu peito e de repente o ar ficou escasso... Eu mau podia respirar.

Ela se virou e me viu, me deu um sorriso e veio em minha direção com alegria no rosto.  Ao se aproximar estendeu sua mão e me disse: "- Fiquei muito feliz por saber que o teu pé foi curado!"

Depois de alguns anos fora do Brasil, eu já tinha alguma noção de como cumprimentar pessoas de outras culturas, então, simplesmente apertei sua mão – mas meu desejo era de dar-lhe o tão esperado beijo.

"- Por que você nunca respondeu minhas cartas?" Perguntei.
"- Por que não queria te dar falsas esperanças", ela respondeu olhando nos meus olhos.
"- Preciso conversar com você... Quando você poderia me dar 30 minutos?"

Assim, marcamos de nos encontrar mais tarde para caminhar e conversar. Eu sabia exatamente como conduzir a conversa. Ou, pelo menos, pensava que sabia. Nos encontramos naquela tarde no lugar marcado. Naquele momento era como se as outras quase 5.000 pessoas presentes simplesmente tivessem desaparecido. Aquele era o momento pelo qual eu havia esperado quatro longos anos e eu não podia perder nem mais um minuto:

“- Sona, você quer se casar comigo?”






Na próxima semana: 
  • A resposta da Sona. 
  • Dois anos depois, Sona e eu conversando outra vez... desta vez em Holms, na Síria.