domingo, 26 de fevereiro de 2012

"Alô, Alô Marciano! Aqui quem fala é da Terra!"

Na publicação do dia 6 de Setembro intitulada "Aprendendo a estar "In Scoring Position" eu contei rapidamente sobre a maneira milagrosa como regressei a Espanha em 1992. Também escrevi sobre os monólogos que tive com Deus naquele dia tão difícil da minha vida. 


A palavra monólogo origina-se do Grego monólogos. De acordo com o dicionário da Língua Portuguesa, um monólogo é o discurso de uma pessoa só. Simples não é? Só que as coisas estavam a ponto de ficar um pouco mais complicadas.
É impressionante a nossa habilidade de "monologar" com Deus. Monologar com Deus transcende religião ou crença. O Católico monologa com Deus, o Crente monologa com Deus e até o Ateu monologa com Deus na hora da verdade...  é só o calo apertar que o monólogo com Deus começa
Geralmente não paramos para escutar o que Deus tem a nos dizer, simplesmente monologamos - geralmente pedindo alguma coisa para nós mesmos ou para outros. Mas dificilmente paramos para ouvir uma resposta. Talvez porque não estamos mesmo buscando uma resposta, ou talvez porque não acreditamos que o Deus Todo Poderoso, o Criador do Universo, tenha tempo ou interesse em falar com "este mero pecador."
Mas nos dias seguintes do meu regresso à casa do Titi e Irinete, uma das coisas que me impressionaram ao observar o Cristianismo vivido por meus "hospedadores" foi que eles escutavam a voz de Deus sobre as coisas do seu dia a dia. Eles conversavam entre si sobre "entender e obedecer a vontade de Deus" e apesar da estranheza do conceito, tal ideia me fascinava! 
Os dias foram se passando... e logo as semanas também... E nada de eu conseguir algo pra fazer em Azuqueca de Henares. Com a recém formação da Comunidade Européia, as oportunidades de trabalho para "ilegais" foram desaparecendo, pois ninguém queria empregar um ilegal sem saber direito as novas consequências que estariam por vir.  Pouco a pouco meu dinheiro ia se acabando e eu sabia que alguma coisa tinha que acontecer rapidamente, mas não sabia como.  
Foi então que em um belo dia de domingo, fomos almoçar na casa de uns amigos de Titi e Irinete, Gabriel e Patricia Jimenez. Gabriel era um jovem senhor Espanhol e Patricia, uma jovem senhora Neo-Zelandesa. Elas eram os diretores nacionais de uma organização internacional chamada "Youth With A Mission" - Jovens Com Uma Missão. Boa parte da conversa ficou centrada na incrivel história do filho adotivo do Titi e da Irinete: eu.
O Gabriel me explicou sobre a organização dirigida por ele, sobre a diversidade de culturas trabalhando voluntariamente em quase todos os países do mundo. Em um determinado momento da conversa, Patricia começou a me explicar que em apenas uma semana, eles estariam dando início a um curso de cinco meses com a participação de jovens de vários países da Europa e também dos Estados Unidos. Gabriel então me perguntou se eu estaria interessado em fazer parte daquele curso. Ele me disse que naquela semana enquanto os líderes do curso participavam de um momento de oração, alguns deles haviam escutado de Deus que um aluno sul-americano estava por vir - mas eles até então não haviam recebido nem mesmo uma solicitação de informação vinda da América do Sul. A Patricia então me disse que agora acreditava que Deus estava se referindo a mim quando falou com os líderes naquela semana.
"-Tá de brincadeira!" - monologuei comigo mesmo. 
Então eles lançaram um desafio: "-Porque você não ora e pergunta para Deus se este é o propósito d'Ele ter te trazido de volta a Espanha?"
"-Fala sério?" - monologuei uma vez mais.
Finalmente havia chegado a minha vez: eu precisava tomar uma decisão importante. Só que estas novas pessoas que eu acabava de conhecer tomavam decisões de uma maneira muito diferente do que eu jamais havia visto ou ouvido. Eles pediam direção a Deus para tomar suas decisões


O Gabriel não perguntou se "eu queria" - ele me disse que perguntasse a Deus o que ELE queria que eu fizesse; o que era um conceito completamente novo para mim: conversar com Deus. 
Essa gente acreditava mesmo que Deus fala com o homem hoje! 
Me lembrei daquela música "Alô, Alô Marciano! Aqui quem fala é da Terra!" - pois foi assim que me senti: como alguém que precisava se comunicar com um extraterrestre!
Eu tinha apenas alguns dias para responder no seguinte formato: "-Eu creio que Deus quer que eu..." 


(Continua na próxima publicação)





     

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Alma Rasgada - Deixando o Brasil para tras uma vez mais.

Ontem  fiquei bem alerta ao estado da minha alma no momento que saía da casa dos meus pais. Era como se algo se rasgasse dentro de mim, dentro da minha alma. E' como se eu fosse me desconectar dolorosamente de uma realidade por um tempo indeterminado.

Pensei que vinte anos depois seria um pouco mais fácil sair do Brasil, mas aquele primeiro passo é sempre muito duro.

Vinte anos depois e eu ainda não sei sair do Brasil sem chorar. Continua sendo muito duro deixar para tras essas pessoas quem eu amo tanto. Deixar para trás minha identidade. Chorei sozinho. No Avião.

Uma hora e meia no carro ajudam a amenizar a ansiedade da saída.

O mais interessante foi notar que houve um determinado momento no aeroporto, logo que fiquei sozinho; em que eu tive que fazer um consciente ajuste mental. A partir daquele momento eu optei por deixar de lado a minha brasileirice. Nunca ate então havia notado isso. Foi algo como apertar um interruptor e fazer uma mudança de atitude, de agir, e da forma de pensar.

O mais interessante foi ouvir o agente de imigração dos EUA me dizer "welcome home sir." Não me lembro de ouvir um agente de imigração no Brasil em vinte anos me dizer "bem vindo a casa."

Não sei se tenho casa. Não me sinto 100% em casa aqui depois de 10 anos residindo no pais, mas também não me senti 100% em casa nos dias que passei no Brasil.

Minha casa esta no céu.