domingo, 23 de janeiro de 2011

QUEM É ESSE CARA?

No pre-primario 1977
Quis escrever hoje, dia 19 de Janeiro para sentir esta emoção de estar vivendo um dia especial... num dia como hoje, 19 anos atrás eu deixei minha casa, minha terra, minha segurança. Troquei tudo por incertezas, por uma aventura, por uma esperança.
Nasci e cresci em Taubaté, SP, filho de metalúrgico da Ford, família humilde e batalhadora. Estudei na Paróquia da Vila Aparecida até a 2ª serie, logo fui para a Escola Estadual de 1º e 2º Judith Campista César. Mais conhecido como “Anjinho,” passei anos frequentando o Clube Vocacional do Convento Santa Clara, ou o “Clubinho de Frei Marino” onde fui coroínha por quatro anos. Foi o Frei Marino que me deu o apelido de Anjinho... pois nos olhos puros daquele querido Frei Franciscano, eu tinha cara de Anjo...

1982

Cara de Anjo?
Aos 14 anos entrei no SENAI muito a contra gosto, pois meu negócio era jogar voleibol (TCC), basquetebol (Associação) e futebol de salão (TCC). Meu sonho de ser um atleta milionário acabou. Mas foi o SENAI quem me garantiu um bom emprego e a independência financeira aos 15 anos de idade – muito importante para quem crescia em uma família de classe média baixa.





Muitas águas rolaram... e em 1990, aos 19 anos de idade eu decidi que iria deixar o Brasil, o que se concretizou em Janeiro de 1992.
Formatura da 8a serie

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Porque sair do Brasil, um país maravilhoso, abençoado por Deus, de clima tropical, de povo caloroso, mulheres lindas, onde tudo que se planta cresce?
Com certeza todos que um dia deixaram o Brasil rumo a um país e em busca de culturas diferentes, deixando para trás pai, mãe, família, saíram por diferentes razões, mas aqui vão as minhas:

  1. Ambição: Esperança de ganhar $$.
  2. Falta de perspectiva com o rumo que a política Brasileira da época.
  3. Ignorância: Não tinha a mínima idéia do que me esperava do outro lado do oceano Atlântico.
  4. Rebeldia: Queria fazer exatamente o que eu queria fazer sem dar satisfações a ninguém
  5. Coração partido: Como não havia possibilidades de ter de volta “aquela quem eu havia perdido” (e meus esforços para preencher o vazio deixavam um vazio ainda maior), a minha única saída era fugir para o mais longe possível!
  6. O vazio insaciável: Este vazio era a falta de Deus.

Fala sério! Entre estas seis razões apresentadas, eu não conhecia as quatro últimas.
Depois de uma noitada na Phaéton que acabou ao raiar do dia seguinte, no Éden Motel, embarquei na mesma noite para Madrid, no dia 19 de janeiro de 1992.
No avião a primeira lição: Já não precisava mais representar... minha platéia havia ficado para trás, o verdadeiro Adriano podia finalmente aparecer. No avião morreu o Anjinho. O único problema era que eu havia representado por tanto tempo que nem eu mesmo me conhecia.
Em 1992 não havia blog. Não havia internet. Não havia Skype, Messenger... não havia telefone celular. Em 1992, enviar um fax era chiquérrimo... e caríssimo também! No dia 20 de janeiro de 1992, no quarto de um hotel em Madrid, eu escrevi a primeira de centenas de cartas que eu escreveria a punho para a minha mãe em Taubaté – e que somente chegaria no Brasil umas duas semanas mais tarde...  Aqui vai o conteúdo daquela primeira carta com meus comentários entre parêntesis:
“Querida Mãe, aqui já são 19h00, aí no Brasil 16h00, estou super cansado porque durante a tarde depois que eu te liguei andei bastante. Esta cidade é muito antiga, as ruas estreitas, os casarões muito bonitos, eu mandarei as fotos.” (Ao ler esta carta pela primeira vez em anos, a primeira coisa que percebi é que eu escrevia terrivelmente!)

“O mais gozado é pedir informação, o pessoal não nos entende muito bem, é preciso falar devagar” (Esta experiência é fantástica, mas muitos discordam de mim, pois a simples ideia de não poder se comunicar é frustrante e aterrorizadora)

“A viagem foi super tranqüila, no avião, uma sensação super gostosa. A mordomia no avião que é legal, você se sente importante” (Bons foram aqueles tempos em que voar era um privilégio e todo passageiro era tratado de forma especial...)
“A saudade bateu hoje a tarde quando eu estava andando no supermercado...” (somente 24 horas depois) “me deu vontade de abrir a boca e chorar, mas eu respirei fundo e não chorei porque eu terei que me acostumar com a solidão...”
Esta foi uma das conclusões na qual cheguei ainda durante o vôo. Ainda no avião eu experimentei um sentimento que jamais havia sentido: ninguém que conheço esta agora ao meu alcance... eu já não mais estava no controle da minha vida e isto era terrível! Foi ali que algo importante começou a acontecer. Eu me lembrei da pequena Bíblia que meu pai me havia dado antes de sair de casa. Na contra capa daquela Bíblia, minha mãe havia escrito:
“Te amo muito. Não se esqueça de mim. Nossos pensamentos continuarão unidos a cada momento. Vou continuar pedindo a Jesus que olhe sempre por você a todo instante esteja você em qualquer lugar. Beijos. Mãe.” 
Aquelas palavras me confortaram. Mas as palavras que me alimentariam nas semanas, dias e anos seguintes seriam as palavras contidas nas páginas daquele livro... pois como escrevi antes, eu já não precisava mais representar... minha platéia havia ficado para trás, o verdadeiro Adriano podia finalmente aparecer. No avião morreu o Anjinho.  E ainda para piorar as coisas, eu já não mais estava no controle da minha vida.
Nas próximas colunas escreverei mais sobre as experiências vividas na Espanha, minha deportação na viagem frustrada a Londres, e também sobre Portugal e Marrocos. Estaremos explorando juntos como estas culturas impactaram a minha vida e talvez então responder à pergunta: Porque sair do Brasil, um pais maravilhoso, abençoado por Deus, de clima tropical, de povo caloroso, onde tudo que se planta cresce?
Hasta pronto!