segunda-feira, 28 de março de 2011

No Consulado do Brasil em Madrid

Vista da janela do hotel em Madrid
Aos 20 anos de idade a vida não tem muito planejamento. Pelo menos, a minha nunca teve. Eu sempre vivi o momento ao máximo.

Mas eu tinha alguma ideia do que fazer assim que chegasse em Madrid. No meu segundo dia na capital Espanhola eu fui ao consulado do Brasil - na verdade, eu não tinha a mínima ideia da função do Consulado Brasileiro e pensava que eles me dariam todas as informações necessárias para que a minha nova vida tivesse um início bem sucedido na Europa.

Acordei logo cedo e abri a janela do quarto (foto ao lado). Fazia muito frio, apesar do sol, provavelmente ao redor de zero grau. Com um mapa na mão e informações de como chegar ao consulado, la fui eu, ansioso por ver Madrid, com seus monumentos históricos em cada esquina.


Enquanto caminhava, simulava na minha mente como deveria dizer ao taxista onde queria chegar. Aquela seria a minha primeira e última viagem de táxi no centro de Madrid... os números do taxímetro  passavam tão rápido que mais parecia estar em bandeira 2! No final daquela corrida eu estava $30 dólares mais pobre. O jeito era aprender a usar o sistema de metrô, trem, ou ônibus o mais rápido possível.

Calle Almagro, Consulado do Brasil em Madrid
Finalmente cheguei ao consulado do Brasil em Madrid. Logo ao entrar, notei que havia um casal ali parado, esperando por atendimento. Cumprimentei o casal e me sentei a espera de que alguém aparecesse para me atender.

Logo um senhor brasileiro apareceu. Me recordo que a nossa conversa durou mais ou menos 5 minutos e tudo que ouvi foi "não podemos, não fazemos, não sabemos..." e logo percebi que eu estava realmente sozinho naquela terra estranha.

Antes de sair do consulado porém, algo que eu jamais poderia ter imaginado na minha vida aconteceu. Sabe quando alguma coisa acontece que não existe outra forma de explicar, senão que Deus tenha intervindo? Desde então, eu descrevo aquele encontro no consulado Brasileiro, em Madrid, como uma "Deusidência", ou seja, uma coincidência arquitetada pelo Criador do Universo.

Titi e Irinete se aproximaram e se apresentaram. Titi é Espanhol e sua esposa, Irinete, Brasileira de Volta Redonda, RJ, (cidade onde tenho vários parentes por parte de minha mãe).  Eles eram as primeiras pessoas com as quais eu tive uma conversa face-a-face em português... eu estava super entusiasmado com a oportunidade!

Conversamos por vários minutos  de temas variados, ate que a Irinete me interrompeu subitamente com uma pergunta completamente fora do contexto da nossa conversa:

- "Adriano, seus pais são evangélicos?"

Pensei comigo... Mas será possível! Até aqui? Mas como eu já estava "vacinado" eu era rápido no gatilho - e respondi:

- "Sim, eles são. Mas eu não."


Só que desta vez era diferente. A Irinete não se intimidou com a minha resposta curta e grossa porque ela tinha uma missão: Ela tinha que me dizer exatamente o que Deus tinha colocado no coração dela e nem mesmo a minha arrogância iria impedí-la! Irinete olhou nos meus olhos como se pudesse enxergar lá dentro da minha alma. Então ela me disse:

"-Adriano, você precisa saber de uma coisa. Seus pais estão orando muito por você... e eu vejo uma luz sobre você. Esta luz é a mão de Deus na tua vida. Deus tem um plano na tua vida."


Titi e Irinete (2008)
Em questão de segundos, o filme da minha vida passou diante dos meus olhos... Era como se eu tivesse saído de tão longe, cruzado o oceano, mas nem toda esta distância era tão grande para que o Seu cuidado não me alcançasse. Tudo que eu podia fazer naquele momento era respirar fundo e deixar as lágrimas rolarem.

Titi e Irinete trocaram olhares. Foi como se conversassem sem usar sequer uma palavra. Eles olharam para mim e perguntaram:

"- Quer vir para a nossa casa?"

O que aconteceu no Consulado do Brasil, em Madrid, não foi apenas uma coincidência. Nos minutos e horas seguintes ficou claro para mim que Deus já havia arquitetado tudo há muito tempo. Conhecer o Titi e a Irinete não foi obra do acaso, foi o que eu chamo desde então de "uma Deusidência."

Se o que aconteceu naquele dia 21 de Janeiro, até que eles me convidassem para ir para sua casa, não fosse suficiente, o que estava para acontecer em seguida é capaz de desfazer qualquer argumento de que tudo isso não passou de uma mera coincidência, obra do acaso, ou pura sorte... 

Aguarde!