terça-feira, 1 de novembro de 2011

Peixe Fora d'agua: Choque Cultural

Nos dias e semanas seguintes do meu regresso a Espanha, minha vida continuava a passar por transformações profundas.  Quando eu sai do Brasil, ninguém me falou sobre um fenômeno chamado "choque cultural."



O choque cultural acontece quando saímos de um lugar onde estamos completamente familiarizados e nos trasladamos a um outro lugar, onde a maneira como as coisas acontecem no cotidiano são diferentes das quais estamos acostumados. Essas diferenças interrompem o "fluir natural" da maneira como funcionamos na sociedade e nos obriga a fazer um esforço consciente para nos encaixarmos no dia-a-dia do novo lugar onde nos encontramos.

Exemplo: Quando criança, íamos visitar parentes Floriano, RJ. Sem dar-nos conta, passávamos por um período de "choque cultural":
  • Como cumprimentamos alguém quando somos apresentados? um beijo, dois, ou três?  
  • Por onde subo no ônibus, pela porta da frente ou pela porta de trás? 
  • Pronunciação da letra r como paulista ou como paulistano?
  • Uso de alguma palavra que significa alguma outra coisa naquela cidade.  
Nos primeiros dias, me sentia como um verdadeiro peixe fora d'água, mas logo entrava no ritmo e me adaptava aos costumes locais.

Sociólogos e Psicólogos certamente podem explicar mais profundamente sobre o tema, mas desde o meu ponto de vista "leigo" e da minha experiencia pessoal, eu pude observar alguns sintomas bastante comuns do choque cultural:

Sintoma #1: Fascinação com as primeiras impressões.
A curiosidade e' imensa, as coisas sao estranhas e curiosas.

Sintoma #2: Cansaço, solidão e frustração.
O esforço para se adaptar começa a esgotar-nos emocionalmente, intelectualmente, e também fisicamente. Especialmente se houver uma certa dificuldade em aprender a língua local, o desgaste emocional e o sentimento de solidão geram uma frustração que pode levar-nos (em casos mais extremos) a abandonar a "aventura" e voltar correndo para a casa. Inicio do sintoma #3...

Sintoma #3: Saudades e espirito critico.
Nesta nova fase, que geralmente bate aos 3 meses da estadia, as saudades comecam a apertar. Nos damos conta de quanto a família faz falta, como são importantes. Ate sentimos um pouco de culpabilidade por não tê-los valorizado os momentos deixados para traz. Ao mesmo tempo, comecamos a desenvolver uma atitude critica com relação as diferenças culturais observadas. 

Sintoma #4: Refugio
Para mim, a fase mais crucial de todas. Este e' o momento onde nos apegamos a qualquer brasileiro que encontramos e sem dar-nos conta, começamos a formar a nossa pequena "colonia Brasileira." E' nesta fase que muitos param e jamais saem dela. Por esta razão muitos nunca aprendem o idioma local, e jamais se encaixam no dia-a-dia da sociedade o que resulta num estancamento do crescimento intelectual e expansao de novos "horizontes."

Sintoma #5: Identificação
Para aqueles que conseguem superar a fase de "refugio" a recompensa e' a identificacao com a nova cultura.

Experiencia cultural Butão: Jantar e celebração com os participantes do Congresso Nacional de Futebol da FIFA em 2001.

Na verdade, nunca deixarei de ser Brasileiro na minha alma (mesmo que o meu português escrito e falado se deteriorem com o passar dos anos!!). Mas em cada um dos 32 países por onde passei, procurei sempre estar no meio do povão, andando no transporte publico com eles, passando tempo com os "locais" (alias tenho que admitir que ate fugi dos Brasileiros diversas vezes...) para que a passagem pelo período de "refugio" fosse abreviado.

Bangalore, India - 1998

Um fator que me certamente me ajudou muito e' que em cada lugar por onde estive, havia em mim um sentido de "missão a cumprir."

Nos próximos posts, vamos explorar estas experiencias de várias perspectivas, enfocando especialmente na "missão a cumprir."

Você já experimentou o choque cultural? Pode citar mais exemplos de choque cultural dentro do próprio Brasil??

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Minhas raízes: sem esquecer-me de onde venho



Alguns dias atrás, vivi uma situação interessante no meu trabalho, que me fez refletir bastante. Como coordenador de esportes aqui da Cidade de Spokane, eu sou responsável por vários programas esportivos para a população.  Alguns destes programas acontece durante os meses mais frios (Outubro e Abril) e por isso são realizados dentro de ginásios esportivos.

A cidade de Spokane não possui um ginásio poliesportivo próprio, mas um convênio que existe já a muitos anos entre o Departamento de Recreação e Esportes da prefeitura e a Secretaria Municipal de Ensino nos permite utilizar os ginásios esportivos das escolas do ensino fundamental, os quais são bastante grandes e geralmente possuem de três a quatro quadras de voleibol cobertas.

Apos submeter os meus pedidos para o uso das quadras em 2012, a Secretaria Municipal de Ensino havia determinado que 11 dos meus 23 programas haviam sido negados por uma razão ou outra.

Mais tarde fui saber que a secretaria de ensino vem formando nos últimos anos, outros convênios com outras entidades e grupos locais (escoteiros, YMCA, etc.) dando a eles o mesmo nível de prioridade dado ao Departamento de Recreação e Esportes da prefeitura, afetando desta forma, algumas das escolas que eu usava para minhas ligas esportivas.

E' importante entender que o convenio entre a Secretaria Municipal de Ensino e o Departamento de Recreação e Esportes da prefeitura existe já a mais de 40 anos.Este convenio foi formado nos anos 70, quando a Secretaria Municipal de Ensino necessitava de ginásios para as crianças do ensino fundamental, e o Departamento de Recreação e Esportes da prefeitura necessitava de espaço para a população adulta praticar esportes como voleibol e basquetebol.

O que foi então decidido, e' que o Departamento de Recreação e Esportes da prefeitura faria doações financeiras, além da concessões de terrenos adjuntos as escolas para a construção dos ginásios. Em troca, a prefeitura teria prioridade de acessar estes ginásios quando os alunos não estiverem ocupando. Este convênio funcionou de maravilha por 30 anos, mas nos últimos 10 anos, os atuais funcionários da Secretaria Municipal de Ensino, incluso o superintendente de ensino, não tinham conhecimento de como o convênio havia sido forjado a 40 anos atrás. 

 
 Acima, um dos programas que eu coordeno. Tênis para crianças de 4 a 8 anos.



Para encurtar uma longa historia, estamos em processo de  reeditar um novo acordo, baseado no primeiro escrito a 40 anos, onde a nossa posição de usuários prioritários dos ginásios será mais uma vez confirmada.

Moral da historia:

Assim como o futuro dos programas que eu coordeno dependem de algo firmado pela primeira vez 40 anos atrás, da mesma forma e' importante para mim não esquecer-me de onde venho e como vim parar aqui. Se a historia deste convenio tivesse caído no esquecimento, eu seguramente perderia a habilidade de levar a cabo o meu trabalho.

Eu e meu irmão, em 1987.

Pessoalmente, conhecer e reconhecer a minha cultura e a minha historia e' muito importante pois me ajuda a conhecer mais de mim mesmo, minhas tendências, minhas carências e meus atributos enquanto direciono o futuro da família que Deus me deu.  



Por esta razão Bellinha e Elan são Brasileiros - de passaporte e certidão de nascimento. Por isto também ha cinco anos tenho me esforçado para que meus filhos possam aprender a língua portuguesa. Não tem sido fácil, pois com certeza e' muito mais fácil conversar com eles em Inglês, que e' a língua que eles estão aprendendo no dia a dia. Mas mesmo que hoje eles somente entendam o que falo em português, um dia através de uma maior exposição a língua portuguesa, espero que possam assimilar rapidamente e comunicar-se com este idioma que esta gravado nos seus corações. 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Aprendendo a estar "In Scoring Position"

A analogia que eu quero fazer e' esportiva mas se aplica diretamente a vida espiritual.

Para um atleta de alto rendimento (profissional) poder marcar um gol ou fazer uma cesta, e' necessário que ele saiba se posicionar no campo ou na quadra, para que no momento em que ele receba a bola, se encontre em condições de definir a jogada da maneira mais eficiente possível: In Scoring Position.

No meio de tudo o que eu vivi naqueles dias, eu comecei a entender que o melhor na vida e' estar exatamente onde Deus quer que eu esteja, no momento que Ele me quer la... Nos anos seguintes, eu continuaria aprendendo esta lição. 
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Eu queria a minha mãe!

Depois de tudo o que eu havia passado nas ultimas 30 horas, eu só queria um abraço para poder desabafar e chorar. So que eu estava de volta na Espanha, onde a única opção era ser forte, pois a mamãe não estava.

O meu plano era voltar para a casa do Titi e da Irinete... mas eles ainda não sabiam. Tentei ligar, mas não conseguia completar a ligação. E a única coisa que eu sabia era que eles moravam em Azuqueca de Henares, na província de Guadalajara, a uns 45 minutos do aeroporto de Barajas. Não tinha nem o endereço deles comigo (???) mas decidi que iria a Azuqueca e de alguma forma, encontrar a casa.

Em todo tempo, eu conversava com Deus, falava com Ele em pensamentos ou as vezes ate em voz alta. Em nenhum momento me senti sozinho, sentia a Sua presença ao meu lado, sentia também que estava sendo guiado por Ele para um futuro muito diferente daquele que eu havia imaginado... mas nao tinha a menor ideia o que estava por acontecer e o quanto a minha vida seria transformada.

Trem da RENFE - "Cercanias de Madrid"

Fui do aeroporto de Barajas ate a estação mais próxima de trem em ônibus. Logo tomei o trem com destino a Guadalajara, o qual passaria por Azuqueca. Depois de 45 minutos, desci do trem em Azuqueca ao redor das 9 horas da noite. Com uma mochila nas costas (e arrastando uma outra bolsa enorme), sai pelas ruas de Azuqueca, tentando me recordar de lugares que havia visto durante as semanas que passei com Titi e Irinete.



Para onde vou???  Estação de trem (1) - Casa de Titi e Irinete na Calle Rio Gallo (2)... mais ou menos 1 1/2 Km.
Ao sair do trem, sabia que deveria seguir para o Norte da cidade e que deveria procurar pelo "Polideportivo," uma quadra coberta que estava a alguns quarteirões da casa do Titi.  Assim que marchei pela cidade, reconhecendo alguns e outros lugares ate que encontrei o tal "Polideportivo..."

O meu coração batia mais forte a cada passo. A bolsa já não pesava mais. Os passos se apertavam e eu me vi andando cada vez mais rápido ate que cheguei na Calle Rio Gallo... era questão de minutos agora. "Obrigado meu Deus!"
Grandes recordações...

Mas qual sera a reação deles ao me verem na porta, de mala e cuia... de repente a duvida bateu a porta do meu coração... mas ali estava eu. Parado frente a porta da casa do Titi, Irinete, Filemon e Kesia.

Toquei a campainha. Titi abriu a porta e com lagrimas nos olhos chamou a Irinete que gritou ao me ver "ADRIANO!" Logo chegaram as crianças que também choravam. Nos abraçamos ali na porta.

Eu simplesmente desmoronei emocionalmente e deixei que o amor de Deus por mim, expressado através daquela família, invadisse a minha alma e me curasse. Aquela recepção de amor era tudo o que eu precisava para colocar um ponto final em tudo o que eu havia passado nas ultimas 32 horas da minha vida. Seus braços eram os braços do Pai, cheios de amor, aceitação e perdão.

O amor que o Titi, Irinete, Filemon e a Kesia me deram foi extravagante. Foi abundantemente muito mais do que tudo o que eu já havia experimentado de pessoas "estranhas." Eu não conseguia compreender aquilo, mas eu sabia que vinha do coração de Deus. Aquela família amava a Deus muito e o amor de Deus simplesmente fluía através de suas vidas. Era natural.

Foi então que eu comecei a entender que o melhor e' estar in Scoring Position.



quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Deportado da Inglaterra: Oportunidade ou Obstáculo - Parte 2

Eu creio que sempre fui um cara bem positivo mesmo em situações difíceis. Mas desta vez, encontrar algo positivo na situação na qual me encontrava, não foi uma tarefa nada fácil. 

Deitado na cama da casa de detenção, no aeroporto de Heathrow, em Londres, todos os meus sonhos pareciam haver se desfeito em um dia. Este foi um daqueles momentos desesperadores, que de vez em quando acontecem em nossas vidas, onde parece impossível não entrar em depressão. Mas aquela nao era a melhor hora para eu me deprimir... resolvi deixar para me deprimir depois. Aquela era hora de ter coragem para confiar em Deus!


Deportado da Inglaterra... mas para onde ir agora?

A bordo do voo da British Airways, eu meditava em tudo o que havia acontecido nos últimos meses:  todos os meus sonhos poderiam ter chegado ao final antes mesmo da minha aventura começar. O sentimento de perda era terrível. Um ano inteiro de preparação para poder deixar para traz tudo o que era importante para mim, ter deixado minha família, o adeus aos amigos, todo o dinheiro gasto ate' então... tudo parecia perdido. Cheguei ate a porta, mas não consegui entrar!

Agora me restava somente uma pequena possibilidade... mas na minha mente, eu já não acreditava que eu conseguiria entrar na Espanha. Quando os agentes de imigração ingleses me colocaram no avião com destino a Madri, eles transferiram toda a responsabilidade sobre mim para os agentes de imigração na Espanha. Em 1992, a União Europeia começava a se consolidar. As fronteiras ainda não estavam abertas nos países Europeus e as medidas de controle de entrada de estrangeiros ficavam cada vez mais rígidas.   

Aquelas duas horas e dez minutos pareceram uma eternidade. Cada um dos 1261km que separam Madri de Londres aumentavam cada vez mais a minha ansiedade. Então eu me lembrei de algo que havia acontecido algumas semanas atras durante a viagem de São Paulo a Madri: A bordo do voo da Varig, eu abri uma pequena Bíblia que meu pai havia me dado momentos antes de despedir-nos. Ao abrir a Bíblia eu li este versículo:  "Eu irei adiante de ti, e endireitarei os caminhos tortos; quebrarei as portas de bronze e despedaçarei os ferrolhos de ferro. Is 45:2"

O que mais me chamou atenção foi o fato de que Deus me dizia que iria diante de mim, endireitando os caminhos tortos... Talvez fosse isto que Ele estava fazendo ao permitir que eu passasse por tudo o que havia passado nas ultimas 24 horas. Foi então que eu tomei uma decisão. Tomei a decisão de transformar esta situação em uma OPORTUNIDADE. Eu decidi que independentemente do que estava para acontecer nos próximos minutos, eu iria servi-lo onde quer que eu estivesse, no Brasil ou na Espanha. Sem mesmo entender direito tudo o que aquela promessa significava, eu tinha certeza de uma coisa: minha vida daquele momento em diante tinha que ser diferente.  
Mas quantas vezes não fizemos promessas semelhantes em momentos cruciais de nossas vidas? Prometer coisas para Deus e' muito fácil, principalmente quando não temos outra opção e não ha mais esperanças em nós mesmos. A prova de fogo viria mais tarde.    



Carregado nos braços de anjos

Ali estava eu, com a mochila nas costas e passaporte nas mãos, aguardando a minha oportunidade para tentar entrar novamente na Espanha. Apesar de tudo o que estava se passando dentro do meu coração, toda a ansiedade e medo, eu procurei me acalmar e aparentar tranquilidade. 

O agente de imigração me perguntou qual era o proposito da minha viagem e quanto tempo eu ficaria na Espanha. Eu não menti; disse a ele que não sabia ao certo quanto tempo estaria no pais. Disse também que queria passar pelo consulado Brasileiro em Madri e estar um tempo com amigos espanhóis. 

Sem sequer folhear meu passaporte, ele o carimbou e colocou de volta nas minhas mãos. Eu não podia acreditar! Eu me senti como se tivesse sido carregado pelas mãos de anjos. La' estava eu de volta em terras espanholas sem saber que la eu passaria os meus próximos quatro anos... os melhores anos da minha vida!   

 








sábado, 18 de junho de 2011

Deportado da Inglaterra: Oportunidade ou Obstáculo?

Sai do Brasil tendo como destino final a Inglaterra, mas peguei um voo de São Paulo a Madri. Até hoje me pergunto por que fiz esta opção... Pois é o mesmo que sair de Taubaté para ir a Pinda via Tremembé... Enfim, após duas semanas na casa do Titi e da Irinete eu comprei minha passagem (somente de ida) para ir a Londres.


LIÇÃO nº 1: Nunca faça uma viagem internacional só com passagem de ida!

Me despedi do Titi, da Irinete e das crianças muito agradecido por tudo que eles haviam feito por mim, pela generosidade, pelo carinho e pelo amor que me deram nas duas semanas que estive com eles... Que foram o suficiente para que houvesse uma transformação fundamental na minha vida. Com certeza eu já não era mais a mesma pessoa que eles haviam conhecido naquele consulado Brasileiro em Madrid.
Duas horas mais tarde, o voo da British Airways aterrizava no aeroporto internacional de Heathrow. Muito calmamente caminhei até a cabine de controle de passaportes e entreguei meu passaporte ao agente de imigração Britânico. Imediatamente percebi que entrar na Inglaterra não seria tão simples como foi entrar na Espanha. O agente fez algumas perguntas e logo chamou outro agente e os dois me encaminharam para uma sala adjacente à sala de desembarque. 

Alguns minutos depois, chegava a minha bagagem. Enquanto dois agentes me questionavam sobre o motivo da minha vinda a Inglaterra, outros dois vasculhavam minha bagagem. Usando luvas de silicone, os dois agentes tiraram tudo da minha bagagem e colocaram tudo sobre uma enorme mesa de aço inoxidável. 

LIÇÃO nº 2: Viaje "light" não deixe dúvidas de que o propósito da viagem é turismo! 

Baseado em tudo que eu trazia comigo na bagagem e o fato de eu possuir apenas uma passagem de ida, os agentes determinaram que eu não vinha a turismo com o propósito de aprender Inglês, como eu alegava. Para eles não haviam dúvidas de que era uma tentativa de imigrar na Inglaterra para viver ilegalmente.

Tudo aquilo parecia um sonho. Um pesadelo do qual eu não conseguia acordar! Eu não conseguia pensar direito, a exaustão tomou conta da minha mente e do meu corpo. Em espanhol eu até conseguia me virar, mas tentar resolver toda aquela situação em inglês, com absolutamente "0" de fluência e um vocabulário extremamente limitado, era muito desgastante. Além do que, a maneira como estes agentes trabalham tem como o objetivo "quebrar" o indivíduo psicologicamente.
 Alguns anos mais tarde eu passaria pela mesma experiência no aeroporto de Seattle... aguardem.

Enfim, minha entrada na Inglaterra foi negada. Não houve sequer a possibilidade de contestar a decisão tomada pelos agentes de imigração Britânicos. Meu passaporte foi confiscado e eu fui escoltado para um centro de detenção (uma cadeia) que fica localizado dentro do aeroporto de Heathrow. 

O centro de detenção é isso mesmo: uma prisão temporária onde pessoas que têm sua entrada negada ficam alojadas até que sejam enviados de volta para o país de onde vieram. No meu caso, como eu tinha uma passagem de regresso a São Paulo desde Madri, a imigração Britânica decidiu enviar-me de volta para lá, de onde eu, certamente, seria encaminhado de volta a São Paulo. 

Para mim aquilo tudo era um pesadelo, uma verdadeira tragédia. Depois de mais de um ano de preparativos para sair do Brasil, minha aventura terminava abruptamente sem que eu mesmo tivesse a chance de tentar alcançar o que havia se tornado meu objetivo na vida: viver na Europa. Por este sonho, eu havia deixado minha família, meu trabalho, meus amigos, meu país e tudo o que eu tinha no Brasil. Também lutava contra o meu próprio orgulho, pois o que eu estava passando era um vexame que eu não teria coragem de contar a ninguém! Eu me senti deprimido, envergonhado e humilhado.

No centro de detenção eu conversei com vários outros indivíduos de diversos países da Africa na mesma situação na qual eu me encontrava. Éramos, provavelmente, umas 25 pessoas ali, detidos e aguardando a deportação.

Na manhã seguinte eu fui levado de volta ao aeroporto e acompanhado por um agente de imigração até o meu acento dentro do avião da British Airways que me levaria de volta a Madrid. Assim que o avião decolou, a aeromoça entregou o meu passaporte com uma estampa bem grande, indicando que eu havia sido deportado da Inglaterra. 


LIÇÃO nº 3: Deus tem sempre um propósito para tudo - depende de nós se encaramos seus propósitos como uma oportunidade ou como um obstáculo. 

Seria normal que eu estivesse ansioso depois de tudo o que eu havia vivido nas ultimas 24 horas, pois com certeza o que me aguardava na Espanha era a mesma recepção que tive na Inglaterra e o retorno certo ao Brasil.

Mas em meio a todas as dúvidas e questionamentos sobre o futuro, havia somente uma certeza no meu coração: a certeza de que Deus estava fazendo algo que eu era incapaz de compreender naquele momento, pois Deus sempre tem um propósito para tudo!

Deus permite que situações inesperadas aconteçam em nossas vidas a todo momento. No meu caso, eu tinha uma escolha a fazer: encarar tudo isso como um obstáculo intransponível, ou tornar a situação na qual eu me encontrava em mais uma oportunidade dada por Deus. Eu tinha duas horas para decidir!









sábado, 14 de maio de 2011

Amar Quem Não Merece

Amar quem não merece não e' fácil 
Amar quem não merece parece impossível
Mas houve um Homem que disse: 
Ame teus inimigos 
Pois que mérito há em amar os que te amam (parafraseando)

Este Homem com certeza sabia o que estava dizendo
Escolher e decidir amar quem não merece nos faz crescer
Faz nascer em nós um amor genuíno, 
Pois este amor não espera nada em troca 

Amar quem não merece requer perdão
Perdão cura feridas em quem perdoa 
Limpa toda amargura
Gera amadurecimento
Alegra a alma

Quem não ama quem não merece 
Jamais vai conhecer a plenitude 
Do que o ser humano e' capaz 
Sua própria humanidade

Quem não ama quem não merece
Jamais vai conhecer a dimensão 
Do coração humano 
Do seu próprio coração

Quem ama quem não merece
Ama como Deus ama
Pois Ele me ama
E eu não mereço 

Mas amo.

"Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. 
Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; 
Para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, 
Porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. 
Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? 
Não fazem os publicanos também o mesmo? 
E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? 
Não fazem os gentios também o mesmo? 
Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste."  (JESUS) Mateus 5.43-48

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Deusidência: Os Fatos Que Mudaram Tudo.

O que aconteceu no Consulado do Brasil, em Madrid, não foi apenas uma coincidência. Nos minutos e horas seguintes ficou claro para mim que Deus já havia arquitetado tudo há muito tempo. Conhecer o Titi e a Irinete não foi obra do acaso, foi o que eu chamo, desde então, de "uma Deusidência" pois este evento simplesmente mudou TUDO na minha vida.

Aceitei o convite para ir à casa deles, passamos pelo hotel onde eu paguei minha conta, recolhi minhas malas e de lá fomos para a cidade de Azuqueca de Henares, que está na província de Guadalajara, ao nordeste de Madrid.   

Durante os 45 minutos de viagem até Azuqueca, aproveitamos o tempo para nos conhecermos melhor.

Descobri que o Titi e a Irinete haviam se conhecido em 1978, durante a Copa do mundo da Argentina. O Titi havia viajado da Espanha até Buenos Aires para participar de uma campanha evangelística, criada por uma organização chamada Jovens Com Uma Missão (JOCUM).  Lá ele conheceu a Irinete, que estava com uma equipe de jovens brasileiros com o mesmo propósito. Segundo eles, pouco tempo depois de se conhecerem, ambos sabiam, em seus corações, que Deus os havia preparado um para o outro.

Logo após o Mundial da Argentina, Titi viajou até o Brasil com a Irinete, onde os dois se casaram em "Pindamonhangaba"... (FALA SÉRIO!)  Titi e Irinete também passaram alguns anos trabalhando na Igreja Metodista Wesleyana, do Bairro do Areão, em Taubaté, que fica apenas 10 minutos da minha casa, no Jardim Califórnia.



Coincidência?

Em 1992, apenas 0.01% da população espanhola era evangélica, ou seja, as chances de que as primeiras pessoas que você conhecesse, ao chegar na Espanha, fossem evangélicas era 1 em 10.000! Mesmo assim, eu tive o privilégio de entrar naquele consulado exatamente no dia em eles estavam lá (para se ter uma ideia, em 16 anos, desde que eu cheguei pela primeira vez, aqui nos EUA, eu nunca fui ao consulado Brasileiro). Eu chamo tudo isto Deusidência: um evento arquitetado nos lugares celestiais pelo Criador do universo, que jamais poderia ter sido planejado pela mente humana e que transforma a vida do homem para sempre.     
Filemon y Késia, alguns anos antes de nos conhecermos.

Ao chegar em sua casa, Titi e Irinete me apresentaram seus dois filhos: Filemon (12) e Késia (9).  Ambos entendiam português perfeitamente, mas somente falavam em espanhol. Késia e Filemon foram meus primeiros professores de Espanhol.

Aos 12 anos, o Filemon foi também o meu primeiro professor de culinária, pois ele já se virava na cozinha - me lembro que a primeira lição foi de como fritar ovos.

Naquela noite, depois de horas de conversa, eu me deitei na cama e não conseguia dormir. Fiquei pensando em tudo o que havia acontecido naquele dia, nos dias anteriores e na minha saída do Brasil. Me recordei daquele momento no consulado, no convite para que eu fosse para a sua casa e em todas aquelas incríveis "coincidências."  Naquela noite eu cheguei à conclusão que nada daquilo tinha sido obra do acaso e que o meu destino havia sido traçado por Deus, passo a passo, começando pela minha saída do Brasil.

Alguns anos depois eu fui saber que eu não era o único que não conseguia dormir naquela noite. Há poucos metros de distância, Titi e Irinete também passaram horas pensando sobre o nosso encontro e o que tudo aquilo significava para suas vidas. No meio de tantas emoções, a Irinete começou a sentir ansiedade e medo. Pensamentos de dúvida começaram a surgir em sua mente: "Será que fizemos o correto trazendo um estranho para a nossa casa? Será que nossos filhos estão seguros na presença de alguém que não conhecemos? E se ele for uma pessoa má e nos fizer mal? E se ele roubar nossos filhos?    

Titi e Irinete, meus heróis da fé!
Mas o Titi e a Irinete não eram pessoas comuns e não demorou muito para perceber. Titi e Irinete são "heróis da fé dos tempos modernos." E como muitos dos heróis da fé nos tempos Bíblicos, Titi e Irinete também eram passíveis de duvidar de si mesmos logo após vivenciar manifestações soberanas de Deus. Um exemplo que me vem a mente é o do profeta Elias após vencer a batalha contra os profetas de Baal.

A resposta do Titi às perguntas da Irinete naquela noite foi: "Mas Irinete, você não ouviu Deus falar com você para trazer o Adriano para a nossa casa?"

O que fazia dos dois um casal tão especial, era que eles verdadeiramente confiavam em Deus e viviam uma vida de fé, como eu jamais havia visto na minha vida. A simplicidade e a devoção dos dois a Jesus, aos seus filhos e de um para com o outro, era algo sem igual. Titi e Irinete conversavam com Deus. Tudo isso sem religiosidade, sem legalismo.

No dia 29 de outubro de 2010 o Titi faleceu, ao lado do seu filho, Filemon, em um hospital, no Rio de Janeiro, em consequência de uma infecção hospitalar generalizada. Este foi um dia muito, muito triste para mim. Foi como se parte da minha vida fosse arrancada de mim.

Apesar de nos últimos anos não termos mantido contato com uma certa regularidade, eu não perdia uma oportunidade para expressar minha gratidão e amor por tudo que eles fizeram por mim. Há pouco mais de um mês, conversei com a Irinete, via Skype. Ela estava ao lado da minha mãe, na casa dos meus pais, em Taubaté.



No próximo post:
Minha ida à Inglaterra e o (improvável) regresso à Espanha... As aventuras estavam apenas começando... 





   

segunda-feira, 28 de março de 2011

No Consulado do Brasil em Madrid

Vista da janela do hotel em Madrid
Aos 20 anos de idade a vida não tem muito planejamento. Pelo menos, a minha nunca teve. Eu sempre vivi o momento ao máximo.

Mas eu tinha alguma ideia do que fazer assim que chegasse em Madrid. No meu segundo dia na capital Espanhola eu fui ao consulado do Brasil - na verdade, eu não tinha a mínima ideia da função do Consulado Brasileiro e pensava que eles me dariam todas as informações necessárias para que a minha nova vida tivesse um início bem sucedido na Europa.

Acordei logo cedo e abri a janela do quarto (foto ao lado). Fazia muito frio, apesar do sol, provavelmente ao redor de zero grau. Com um mapa na mão e informações de como chegar ao consulado, la fui eu, ansioso por ver Madrid, com seus monumentos históricos em cada esquina.


Enquanto caminhava, simulava na minha mente como deveria dizer ao taxista onde queria chegar. Aquela seria a minha primeira e última viagem de táxi no centro de Madrid... os números do taxímetro  passavam tão rápido que mais parecia estar em bandeira 2! No final daquela corrida eu estava $30 dólares mais pobre. O jeito era aprender a usar o sistema de metrô, trem, ou ônibus o mais rápido possível.

Calle Almagro, Consulado do Brasil em Madrid
Finalmente cheguei ao consulado do Brasil em Madrid. Logo ao entrar, notei que havia um casal ali parado, esperando por atendimento. Cumprimentei o casal e me sentei a espera de que alguém aparecesse para me atender.

Logo um senhor brasileiro apareceu. Me recordo que a nossa conversa durou mais ou menos 5 minutos e tudo que ouvi foi "não podemos, não fazemos, não sabemos..." e logo percebi que eu estava realmente sozinho naquela terra estranha.

Antes de sair do consulado porém, algo que eu jamais poderia ter imaginado na minha vida aconteceu. Sabe quando alguma coisa acontece que não existe outra forma de explicar, senão que Deus tenha intervindo? Desde então, eu descrevo aquele encontro no consulado Brasileiro, em Madrid, como uma "Deusidência", ou seja, uma coincidência arquitetada pelo Criador do Universo.

Titi e Irinete se aproximaram e se apresentaram. Titi é Espanhol e sua esposa, Irinete, Brasileira de Volta Redonda, RJ, (cidade onde tenho vários parentes por parte de minha mãe).  Eles eram as primeiras pessoas com as quais eu tive uma conversa face-a-face em português... eu estava super entusiasmado com a oportunidade!

Conversamos por vários minutos  de temas variados, ate que a Irinete me interrompeu subitamente com uma pergunta completamente fora do contexto da nossa conversa:

- "Adriano, seus pais são evangélicos?"

Pensei comigo... Mas será possível! Até aqui? Mas como eu já estava "vacinado" eu era rápido no gatilho - e respondi:

- "Sim, eles são. Mas eu não."


Só que desta vez era diferente. A Irinete não se intimidou com a minha resposta curta e grossa porque ela tinha uma missão: Ela tinha que me dizer exatamente o que Deus tinha colocado no coração dela e nem mesmo a minha arrogância iria impedí-la! Irinete olhou nos meus olhos como se pudesse enxergar lá dentro da minha alma. Então ela me disse:

"-Adriano, você precisa saber de uma coisa. Seus pais estão orando muito por você... e eu vejo uma luz sobre você. Esta luz é a mão de Deus na tua vida. Deus tem um plano na tua vida."


Titi e Irinete (2008)
Em questão de segundos, o filme da minha vida passou diante dos meus olhos... Era como se eu tivesse saído de tão longe, cruzado o oceano, mas nem toda esta distância era tão grande para que o Seu cuidado não me alcançasse. Tudo que eu podia fazer naquele momento era respirar fundo e deixar as lágrimas rolarem.

Titi e Irinete trocaram olhares. Foi como se conversassem sem usar sequer uma palavra. Eles olharam para mim e perguntaram:

"- Quer vir para a nossa casa?"

O que aconteceu no Consulado do Brasil, em Madrid, não foi apenas uma coincidência. Nos minutos e horas seguintes ficou claro para mim que Deus já havia arquitetado tudo há muito tempo. Conhecer o Titi e a Irinete não foi obra do acaso, foi o que eu chamo desde então de "uma Deusidência."

Se o que aconteceu naquele dia 21 de Janeiro, até que eles me convidassem para ir para sua casa, não fosse suficiente, o que estava para acontecer em seguida é capaz de desfazer qualquer argumento de que tudo isso não passou de uma mera coincidência, obra do acaso, ou pura sorte... 

Aguarde!


  

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Por que eu sai do Brasil em 1992?

No meu primeiro post aqui no Tangram das Ideias, eu contei um pouco sobre o "Anjinho," sobre a minha decisão de sair do Brasil e ir para a Inglaterra via Espanha, meus primeiros dias em Madrid e as emoções vividas ao estar "literalmente só" pela primeira vez na minha vida. Nestes próximos posts, vou começar a responder a pergunta que ficou no ar no segundo post: Porque sair do Brasil, um pais maravilhoso, abençoado por Deus, de clima tropical, de povo caloroso, onde tudo que se planta cresce?


Para responder esta pergunta, é preciso entender o contexto do Brasil e o contexto da minha vida em 1992:  


O contexto do Brasil em 1992.
Nosso país vivia uma outra realidade. A economia brasileira era uma bagunça. Em poucos anos o Brasil assistiu à desvalorização do Cruzeiro, sua substituição pelo Cruzeiro Novo, Cruzado e Cruzado Novo. Pessoalmente eu não via nenhuma perspectiva de mudanças, especialmente depois que Fernando Collor ganhou as eleições para presidente do Brasil (eu votei no Lula para presidente). 

Aos 20 anos de idade, eu não era uma pessoa muito paciente e não estava disposto a esperar para ver se as coisas mudariam. Então e minha única opção era encontrar atalhos para crescer como pessoa e profissionalmente. Eu sonhava em estudar na Europa... queria mudar de ramo - talvez influenciado por um grande amigo, Marcello Ayello, eu quis entrar na área de Marketing... a profissão da moda no final dos anos 80 e início dos anos 90.

O contexto da minha vida em 1992. 
A Ford, onde eu já trabalhava há 4 anos, passava por mudanças e eu já não tinha mais "saco" para continuar lá, apesar do excelente salário que eu recebia desde os 15 anos quando comecei no SENAI.

Minha vida era completamente desregrada, com noitadas de quinta a domingo e sem nenhuma estabilidade na vida emocional... Ok, eu só tinha 20 anos, mas já precisava dar um descanso ao meu coração!  

Aos 14 anos de idade (1985) eu comecei a namorar aquela que tinha sido a menina dos meus sonhos, Janaina. Uma menina linda, com uma personalidade madura e com um carácter anos além da sua idade (e da minha também).  Estivemos juntos 2 anos e meio e o termino do nosso namoro criou dentro de mim um vazio emocional do qual eu não consegui me recuperar por muitos anos, até que sai do Brasil. 

Alguém namora sério aos 14 anos de idade? Ela sim. Eu tentei. Mas aproximadamente um ano e meio depois, o prazer pelas aventuras ofuscou minha integridade e comecei a agir com desonestidade até a "menina dos meus sonhos" já não podia mais suportar tanta mentira. Ela rompeu nosso namoro. Os anos se passaram e eu não conseguia esquecê-la. Eu a queria de volta. 

Poucas pessoas souberam o quanto eu sofri nos 7 anos seguintes por não conseguir perdoar a mim mesmo por tê-la perdido. Tratei de curar aquela ferida de duas formas: no consultório de psicólogos, ou nos motéis do Vale do Paraíba... Ambas sem resultado. 

Em 1990, em meio a um novo relacionamento super intenso. Parecia que finalmente o vazio deixado pela Janaina finalmente desapareceu. Curiosamente, na noite em que conheci a Luciana, eu e a Janaina conversamos pela primeira vez em anos e eu havia dito a ela que queria um recomeço. Mas não foi desta vez. 

Entrei na Phaeton um pouco mais cedo naquela noite, eu e o Chimenez. Sentados no bar, vi a Luciana com outras meninas em uma mesa. Pagamos e mandamos algumas bebidas para a mesa delas e em seguida chegamos e nos convidamos para sentar. Mais tarde eu e a Luciana dançamos "Lambada," minha especialidade... A Luciana nao era uma desconhecida para mim. Anos atrás eu havia jogado vôlei com seu irmão, e por muitas vezes a vi no TCC, mas nunca tive coragem de me aproximar.

No dia seguinte fomos no cinema e logo depois estávamos namorando. 

A Luciana passou a ocupar todos os momentos da minha vida. Tinhamos muitas coisas em comum. Corinthianos e apaixonados por esportes, passavamos todo tempo disponivel juntos. A única diferença era que a Luciana cresceu em uma família rica e eu não. Isto não era um problema para nos, mas sim para sua mãe. 

O relacionamento mudou quando uma gravidez inesperada aconteceu. Eu imediatamente quis fazer o papel de HOMEM, o que alguns dos meus amigos não tiveram a honra de fazer quando se encontraram naquela situação. Depois de conversar com meus pais sobre o acontecido, fui conversar com a mãe da Luciana. 

Eu havia tomado a decisão de que iria me casar com a Luciana. Nos amávamos e decidimos que queríamos ficar juntos e construir uma família. Eu estava pronto para me casar e assumir todas as responsabilidades e com esta atitude, contamos os fatos a sua
mãe, que rejeitou dar qualquer apoio e ofereceu-nos a opção de um aborto.

Ate hoje me lembro de sua recomendação: "-Vcs deveriam considerar um aborto. Eu mesma fiz anos atrás. Neste momento ainda não e' uma criança, e' apenas como uma gema de ovo - e vcs podem comecar a vida de vcs, juntos, sem a pressão de ter um filho."

Eu não acreditei no que tinha acabado de ouvir! Imediatamente recusei. 

Algumas semanas depois, a Lu me informou que havia ocorrido um aborto natural. Me lembro que estava na Ford quando recebi a noticia. Sai da fabrica chorando muito. Fui pra casa e meus pais me consolaram. Naquela noite, fui ver a Lu. Nos abraçamos e choramos.  

A historia nunca me convenceu. Alias, tenho fontes seguras de dentro do hospital Santa Isabel, que nos informaram que o aborto foi provocado e teve a cobertura da entao diretora do hospital, Marilda Prado - que era amiga da familia. 

Talvez nunca saiba com certeza o que aconteceu naquele dia. O que sei e' que doeu muito e dói ate o dia de hoje. 

Lu e eu seguimos juntos, mas faltava algo. Faltava nosso filho. Eu deixei de confiar nela a partir daquele momento. Aquele vazio emocional de antes, tornou-se em abismo. O relacionamento com a Luciana começou a sofrer. Creio que houve um grande esforco de parte de sua mãe para que o relacionamento terminasse. Tenho orgulho de dizer que nunca trai a Luciana apesar de que no final de tudo, ela escolheu me deixar. Não creio que terminamos oficialmente. Ela simplesmente começou a sair com outro cara.

Tudo isto pesou na minha decisão de sair do Brasil. O problema não eram os dois relacionamentos intensos que eu havia vivido. O problema era que faltava um fator estabilizante na minha vida. Faltava Deus.

No ano seguinte alguns amigos seguraram minha barra enquanto eu me preparava para sair do Brasil. Mesmo sem saber o que acontecia no meu coração, estes são amigos aos quais jamais me esquecerei: Jé, Paulinho, Cesinha, Betinho Cociello, Wesley, Obesinas, Abimael, Marcelo Ayello e Carlos Giordano. Débora Santos, Simone Oliveira, Patricia e Lucimara.     
     
Este era o contexto da minha vida em 1992, quando eu deixei tudo para trás, família, amigos, 20 anos vividos em Taubaté, em busca de algo que preenchesse o abismo que havia na minha alma. Os primeiros 3 meses foram os mais difíceis. Por várias vezes estive ao ponto de abandonar o sonho e voltar para a casa. Mas ao refletir sobre tudo o que eu tive que enfrentar para chegar aonde eu cheguei, os milagres que aconteceram (situações completamente fora do meu controle), eu comecei a acreditar que havia um propósito muito mais alto, do que os meus próprios, para eu estar onde estava.  Graças a Deus que eu continuei firme no meu objetivo, pois com certeza minha vida seria completamente diferente hoje. E a vida que eu tenho hoje, eu não trocaria por nada! Por isso: NUNCA DESISTA DOS SEUS SONHOS!


 

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Histórias da Revolução no Cairo: Mulheres que fazem a diferença.

Nesta semana eu recebi um email de uma amiga que esteve presente nas manifestações que levaram à queda do regime do Presidente Hosni Mubarak, no Egito. Neste email ela relata brevemente sobre o preço pago pelo povo egípcio para conquistar esta vitória histórica, mas também como estes dezoito dias afetaram sua própria vida e de sua família.

Anos atrás quando conheci R, ela ainda era uma jovem universitária, na cidade do Cairo. Hoje, R é casada com A (quem ainda não tive o prazer de conhecer) e é mãe de uma linda menina, M. 



Estou postando esta história porque estes relatos me comoveram. Esta talvez seja a história de muitas outras valentes mulheres Egípcias:  (O email que ela me enviou foi traduzido com permissão).

"Caro Adri, 
Muito obrigado pelo cuidado conosco durante as semanas de revolução aqui no Egito. Eu queria te escrever, mas eu meu tempo estava muito limitado, até mesmo para estar com minha filha durante os eventos.  

Estive presente nos protestos desde o início e presenciei toda a brutalidade das forças policiais naqueles primeiros dias, o que fez o povo egípcio tornar-se ainda mais determinado e persistente em levar a revolução até o fim. Você não pode imaginar como foi tudo isso... A policia respondeu ao nosso movimento pacífico, jogando contra nós bombas de gás lacrimogêneo, mangueiras de jato d'água e balas de borracha - atacando sobretudo a linha de frente. Nossa resposta foi cantar todos juntos "Selmiya Selmiya (PAZ! PAZ!).

Praça Tahrir, Cairo - Egito.
Houve um momento em que conseguimos negociar com os soldados da polícia (nos escalões inferiores), para que fossem mais misericordiosos conosco. Nossa proposta foi aceita, pois haviam mulheres, crianças e idosos entre os manifestantes. A multidão aplaudiu os soldados. Mas essa trégua durou pouco tempo, pois logo em seguida a força policial recebeu ordens para nos atacar com brutalidade, utilizando atiradores de elite, que de cima dos prédios atiravam e matavam os manifestantes atingindo a vários deles com tiros na cabeça e no peito.  
 
Enquanto isso acontecia lá na frente, eu ficava na retaguarda das manifestações. Que Deus abençõe as almas de todos os mártires e cure as feridas das famílias que perderam seus entes queridos. Com certeza os que derramaram suas vidas por nossa liberdade encontrarão seus lugares no céu.

Claro que eu temia por minha própria vida todos os dias quando saía de casa para apoiar as manifestações. Mas eu colocava esses sentimentos diante de Deus e pedia a Ele, no meu coração, para que Sua vontade fosse feita. Apesar do meu desejo de voltar para a minha filha e meu marido em segurança, eu sabia que mesmo se eu morresse, Deus guardaria a minha família com seus olhos misericordiosos. 

Ainda não consigo entender a bravura daqueles que se colocaram nas linhas de frente. Eles confrontaram as balas do regime sem nenhuma proteção, com seus peitos desprotegidos mas cheios de coragem. Deus abençoe a todos!

Meu marido, participou das unidades de proteção civil, guardando nossas casas de ataques de assaltantes e bandidos. Durante as noites, ouvíamos os tiros nas ruas. Minha filha chorava porque tinha medo e queria que seu pai estivesse conosco em casa. Para acalmá-la eu cantava com ela e lia o Alcorão até que ela dormisse. Acredito que agora as pessoas se sentem mais seguras e livres pela primeira vez em muitos anos.   

R, A e sua filha M.
O sentimento agora é de vitória ao olhar para trás e ver o que alcançamos por causa da nossa persistência e perseverança, mas durante os 18 dias da revolução, houveram muitos momentos de dúvida, especialmente quando a mídia começou a circular rumores de que o movimento estava se enfraquecendo. Mas o povo perseverou e graças à má gestão do governo, as manifestações tomaram outro impulso e uma injeção de ânimo que nos levou até o final. Agora, temos esperanças de um novo futuro, pois acreditamos no potencial deste belo país e de seu povo.

Creio que escrevi muito e talvez até te dado uma dor de cabeça. Obrigada querido amigo pelo seu apoio, cuidado e preocupação. Eu realmente espero vê-lo em breve, mas desta vez queremos recebê-lo em um país "democrático" - quem sabe em uma República Democrática do Egito :)

Por favor, envie uma saudação carinhosa a sua esposa e filhos. Saudade de
você, meu amigo!"

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

EGITO: Confusão e Caos na Praça da Liberdade

Quero abrir um parêntesis aqui para escrever um pouco sobre o que esta acontecendo no Egito nas últimas duas semanas. Em seguida continuaremos dando sequência ao tema que abriu a “Coluna do Adriano.”

Tenho laços muito fortes com o país e o povo egípcio. Durante os anos que passei na Espanha, conheci vários egípcios. Confesso que minha admiração inicial era pelo fato de estar diante de pessoas oriundas da terra das pirâmides, dos faraós, das histórias Bíblicas do livro de Êxodo, Moisés, Mar Vermelho, etc. Mas logo percebi que amar o povo egípcio é muito fácil para nós brasileiros, pois nossas culturas são um interessante paradoxo com muitas semelhanças na maneira como nos relacionamos e amamos as pessoas, como amamos viver a vida, fazer festa, etc. Mas ao mesmo tempo, nossas diferenças culturais em termos de língua, religião e outros costumes são imensas.
Mas foi em 1997 que nasceu o meu amor pelo Egito. Naquele ano fiz as minhas malas e embarquei para o Egito com o propósito de lá ficar durante aquele ano, aprendendo sobre a cultura, a língua, e os costumes do povo árabe (eu regressaria ao Egito várias vezes nos anos seguintes, dando continuidade ao trabalho lá iniciado naquele ano - mais sobre o meu tempo no Egito em posts futuros).
Durante aquele ano, eu trabalhei com várias comunidades, principalmente no Cairo e na Alexandria. Edifiquei amizades com muçulmanos e cristãos, amizades que certamente durarão para sempre. Por isso, tenho acompanhado atentamente tudo que tem acontecido no Egito e sofrido com suas aflições.
Este movimento espontâneo liderado em sua grande maioria, pela juventude egípcia, nasceu nas redes sociais (Facebook e Twitter) e resultou no que se tem visto nos últimos 15 dias, principalmente na cidade do Cairo. Milhares de Egípcios se reúnem diariamente em protesto pelas condições sociais, econômicas e políticas do país.
De acordo com um email que eu recebi de uma amiga no Cairo, “...os protestos começaram de maneira civilizada e segura em varias cidades no Egito com reivindicações por melhores condições de vida, segurança, trabalho e educação. Mas logo a policia começou a atacar violentamente, a internet e os telefones celulares foram bloqueados. Pessoas começaram a morrer nas ruas. De repente a policia desapareceu e o caos tomou conta das ruas com a fuga de 17.000 presidiários soltos nas ruas do Cairo.”

El Tahrir (Praca da Liberdade), onde milhares de pessoas tem se reunido para
protestar contra o governo do presidente Hosni Mubarak

Eu fiquei aqui pensando: - Como seria ter que proteger minha família pelas minhas próprias forças - por falta de opção? Um outro amigo relatou sua própria experiência: “ – Não durmo há 9 dias, pois temos que montar guarda na rua dia e noite. Já são oito o numero de marginais que impedimos de entrar na nossa rua. Temos que estar vigilantes porque os fugitivos têm atacado pessoas nas ruas e invadido casas para roubar e estuprar. A comida acabou em casa e esta difícil de encontrar para comprar na rua. Tudo o que podemos fazer é orar!”

Outra preocupação expressada em um dos emails que recebi é quanto ao futuro político do país. O desejo da sociedade egípcia é por um país secular, onde haja liberdade para se escolher seus governantes e liberdade religiosa. Mas já se cogita que radicais muçulmanos se preparam para aproveitar a oportunidade e transformar o Egito em algo parecido ao Irã.

Mas no meio de todo este caos, o povo egípcio tem se abraçado. Num país onde a segregação social, baseada na religião, é intensa, Muçulmanos e Cristãos têm se unido e se ajudado mutuamente. Outro amigo relata como as pessoas de sua Igreja têm se mobilizado para compartilhar uma mensagem de esperança com seus vizinhos muçulmanos – os quais antes eram meros desconhecidos. Ele também conta como as pessoas têm se disponibilizado para organizar o tráfego nas ruas, prestar primeiro socorros, etc.
No vídeo abaixo, uma cena inimaginável anos atrás. Moheb e meu amigo Maged - o mesmo que aparece comigo na foto acima), na famosa praça Tahrir, onde milhares de pessoas se reuniram no dia 4 de Fevereiro para o "Million Men March." Naquele dia, pobres e ricos, jovens e idosos, Cristãos e Muçulmanos cantaram juntos: “Que a paz e o governo de Cristo seja estabelecido aqui. Que Ele venha liberar os fracos e ouvir o clamor do Seu povo. Bendito seja o Egito, meu povo.”


Paz e reconciliação entre Muçulmanos e Cristãos egípcios.
Desde 2010, a Igreja no Egito vinha se preparando para um "grande acontecimento" - eles somente não sabiam de que se tratava. Um amigo me contou que no final do ano passado, 1200 Cristãos de sua Igreja fizeram um jejum de 40 dias por seu país.

Ninguém sabe prever como ou quando tudo isto vai acabar, ou o que vai resultar de tudo isto, mas uma coisa é certa: o Egito jamais será o mesmo. O que vemos na TV e na internet é um povo apaixonado por suas famílias e por seu país. Um povo orgulhoso por sua cultura milenar, despertando após décadas de um longo pesadelo para reivindicar dias melhores e o direito de eleger seu governantes.