segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Meu Presépio


Existem alguns dogmas religiosos que são puramente culturais. Viajando pelo mundo eu pude notar que algumas verdades inquestionáveis para um cristão no Brasil, não tem o mesmo peso para os cristãos Sírios, Egípcios, Chineses ou até aqui mesmo para os Norte Americanos. Vou citar alguns exemplos, mas antes quero apresentar a definição de "Dogma" de acordo com o dicionário da língua Portuguesa:

DOGMA sm (gr dógma)
1
Ponto ou princípio de fé definido pela Igreja.
2
Conjunto das doutrinas fundamentais do cristianismo.
3 Cada um dos pontos fundamentais de qualquer crença religiosa.
4 Fundamento ou pontos capitais de qualquer sistema ou doutrina.
5
Proposição apresentada como incontestável e indiscutível.
 
CRUCIFIXO -
O uso do crucifixo- que é repudiado pela Igreja Evangélica Brasileira, é  normalmente usado por cristãos Evangélicos e Católicos do Oriente Médio. No Egito, meus irmãos Evangélicos carregam o crucifixo com orgulho, mesmo que venham por isto, sofrer perseguições que coloquem em risco suas vidas.


VELAS -
No Brasil, o Católico acende velas por motivos religiosos, mas o Evangélico não. Creio que por ser parte de rituais católicos, espíritas, ou de feitiçaria. Nos EUA e na Europa, as velas s
ão usadas regularmente em casa como aromatizante. Sinceramente, quando eu sai do Brasil eu tinha até medo de velas!

IMAGENS DE SANTOS -
Outra comparação interessante e muito comum no Brasil, é o fato de que a Igreja Católica dá um ênfases à adoração de imagens de santos; homens e mulheres que viveram uma vida de santidade e foram canonizados pela Igreja Católica Apostólica Romana. Este é talvez, uma das maiores desavenças entre a Igreja Evangélica e a Igreja Católica.


Os Evangélicos creem que a adoração de imagens seja idolatria. Isto é baseado primeiramente no segundo dos Dez Mandamentos, que diz:

“Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.”

Aqui nos Estados Unidos, os Católicos não adoram imagens como fazem os Católicos no Brasil. Consequentemente, aqui não existe a animosidade que existe no Brasil entre Evangélicos e Católicos.

Nesta época do ano, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, os Cristãos se preparam para celebrar o nascimento de Jesus: o Natal.


Na casa da família Eva aqui nos EUA, eu e a Wendi constantemente buscamos por oportunidades para criar “momentos memoráveis” com os nossos filhos. Todos os anos fazemos do mês de Dezembro um mês especial onde enfatizamos entre outras coisas, a importância da generosidade: porque Deus foi generoso e nos deu Seu único Filho.

O PRESÉPIO - 
A Igreja Evangélica Brasileira não monta presépios por causa das imagens. A Igreja Evangélica Americana não vê nenhum problema em montar presépios. A Igreja Evangélica Egípcia também não. Este é mais um caso de "Dogma Cristão" que não cruzou fronteiras. 

Neste ano, além da nossa decoração tradicional, a Wendi montou seu presépio pela primeira vez. A alguns anos ela tem esperado pacientemente para que o Elan cresça o suficiente para entender que as peças do presépio não são brinquedo e que portanto, ele não deve tocá-las. A Wendi tem muito cuidado com este presépio, pois as peças são parte de uma coleção artística especial e bastante cara.

Sou crente, Brasileiro e tenho um presépio na minha casa! Sinceramente, passei por momentos de conflito cultural... Mas foi a partir de uma reflexão sobre o presépio na minha casa, que nos dias que se seguiram eu aprendi uma nova lição sobre o Natal.


O DRAGÃO-
Qualquer um de nós poderia descrever rapidamente a cena de Natal e todos os participantes ali presentes: José, Maria, Jesus na manjedoura, os três reis magos, a vaquinha, o Camelo... o anjo em cima do telhado e a estrela no céu. Só faltou mesmo nesta cena o dragão. Dragão?


Isso mesmo. O livro de Apocalipse, capitulo 12:4,5 coloca um dragão bem no meio da cena de Natal:

”O dragão se colocou em frente da mulher que estava prestes a dar à luz, a fim de lhe devorar o filho quando este nascesse. A mulher, então, deu à luz um filho e ele está destinado a governar todas as nações com vara de ferro.”

 

Hoje, eu olho para o presépio não posso deixar de imaginar o que acontecia no mundo espiritual no instante do nascimento de Jesus. Imagino o dragão (satanás) - cujo melhor golpe se chama “morte” – presenciando o nascimento do meu Salvador; impotente, incapaz,dando-se conta de que não teria a menor chance no "mano-a-mano" com aquele bebê. Seu plano de devorá-lo saiu pela culatra!

Natal é isso ai- uma celebração da nossa salvação. Podemos não concordar nos dogmas, mas de uma coisa podemos ter certeza: O plano de Deus foi perfeito em Jesus.

Feliz Natal!

domingo, 1 de setembro de 2013

Espanha, Marrocos e Portugal - 1993



Assim que eu regressei a Espanha, meu papel passou a ser o de dar apoio logístico para que os ministérios da missão pudessem se desenvolver. Minha experiência no Senai e na Ford me capacitou para assumir a responsabilidade pela manutenção do edifício usado pela JOCUM (Jovens Com Uma Missão), bem como, de todos os veículos de propriedade da organização. 
Naquele momento meu coração estava em paz, pois desta vez ainda que sofrendo um pouco, eu havia saído do Brasil com a benção dos meus pais. Também o fato de ter saído do Brasil com um propósito determinado ajudava muito, pois o meu futuro a curto prazo não seria mais uma incógnita.
Alguns meses depois eu fui convidado para trabalhar na ETED (Escola de Treinamento para Discipulado e Evangelismo).  
ETED em Torrejon, 1993


Os participantes vieram de vários países e formamos um grupo muito unido apesar da grande diversidade cultural: Inglaterra, Portugal, França, El Salvador, Colômbia, USA, Canada, Áustria, Dinamarca, Holanda, Suíça e também Espanhóis.






Detalhe para a pochete...


Com este grupo, estudávamos durante a semana e evangelizávamos todos os fins de semana em Madrid. Eu curtia muito aqueles momentos. Ao som de um par de violões e um pandeiro, cantávamos nas ruas e nas praças. Com um microfone nas mãos eu "hablaba" a todos os que quisessem escutar como um verdadeiro pregador de rua. Minha mensagem era simples:
1- O eu antes de Jesus
2- Jesus apareceu e mudou o rumo da minha vida
3- O Eu agora
4- Jesus esta aqui para mudar o rumo da sua vida hoje!

Em seguida, conversávamos com as pessoas ali presentes. Era comum ver pessoas respondendo a mensagem do evangelho entregando suas vidas a Jesus ali mesmo. Outras pessoas eram curadas de enfermidades quando orávamos por elas. 












Um momento de oração pelo Marrocos
Ao terminar a fase de estudos em Torrejón de Ardoz, fizemos uma viagem ao Marrocos onde vivi mais uma experiência com Deus que jamais me esquecerei. O Marrocos é um país muçulmano onde a pregação do evangelho é proibida. O propósito da nossa viagem era primeiramente interceder em oração pelo povo marroquino. Entramos no Marrocos por Tanger, cidade que esta no outro lado do Estreito de Gibraltar, tão próxima da Espanha, que é possível vê-la desde o território Espanhol. De lá fomos a Rabat, a capital do país. De Rabat fomos a Safi, Casablanca e Marrakesh. Em todos estes lugares buscávamos de Deus sua direção, para saber onde deveríamos ir e como orar pelo povo do Marrocos. 




Mausoléu de Mohammed V, Rabatt, Marrocos.
Em uma determinada manha em Rabat, saímos para caminhar pelas ruas da cidade quando passamos em frente ao Mausoléu de Mohammed V (falecido rei de Marrocos). Era sexta feira e haviam muitas pessoas na Mesquita ao lado. Paramos do outro lado da rua e desde lá começamos a orar pelas pessoas que estavam lá. Meus olhos encontraram do lado de fora um homem ajoelhado, orando e batendo sua testa em uma parede que estava a sua frente (foto ao lado). Naquele momento Deus falou comigo: - Ele não me conhece.

Imediatamente senti um vazio muito grande no meu coração, como o vazio que eu sentia antes que Titi e Irinete tivessem me apresentado ao meu melhor amigo e Salvador. Chorei muito, chorei inconsolavelmente. Eu sabia exatamente o que estava acontecendo comigo naquele momento: Deus me deixou sentir outra vez a ausência de Sua presença para que eu entendesse como aquele homem se sentia. Mas também me mostrou o propósito pelo qual Ele me havia criado. Naquele momento nasceu em mim um amor eterno pelo povo muçulmano. 




Também estivemos em Fez, onde nos encontramos com um missionário Espanhol num dos quartos do hotel onde estávamos hospedados. Ele nos contou um pouco sobre o seu trabalho no Marrocos e seus desafios. Ele nos contou sobre marroquinos que estavam conhecendo a Jesus por todo o país e os riscos que estes novos cristãos corriam. Muitas dessas pessoas tiveram encontros pessoais com Jesus, que aparecia em pessoa diante deles, se apresentado como seu único Senhor e Salvador. 
De Madri fomos a Sevilha, Malaga, Tanger, Rabat, Casablanca, Safi, Marrakesh, Meknes, Fez, Ceuta e Lisboa. 

De Fez fomos a Ceuta, uma cidade espanhola no Norte da África. Em Ceuta trabalhamos com uma Igreja local evangelizando nas ruas e por ser território Espanhol, evangelizávamos abertamente os Muçulmanos. L
á também fomos convidados para dar uma entrevista para um programa de TV local.

Nossa próxima parada nos levou a Portugal onde estivemos trabalhando com Igrejas nos arredores de Lisboa. Também tive a oportunidade de conhecer uma senhora portuguesa que por um longo período me enviou dinheiro mensalmente sem nunca ter me conhecido. Desde que comecei a receber aquele dinheiro procedente de Portugal, eu havia escrito varias vezes sem nunca haver recebido uma resposta. Eu tinha muitas perguntas, como por exemplo: “Como ela havia me descoberto na Espanha? Ou porque ela havia começado a me enviar dinheiro sem mesmo me conhecer?” 


Nosso encontro foi breve. Conheci a senhora e sua filha. Ela me disse que alguém que esteve na Espanha e posteriormente passou por sua Igreja em Sintra, comentou sobre "o Brasileiro" e imediatamente Deus lhe disse que começasse a me enviar $100 todos os meses. E ela estava simplesmente obedecendo. É simplesmente maravilhoso como Deus cuidou de mim.

 Ao todo passamos dois meses viajando, intercedendo e evangelizando. Foi uma experiência inesquecível em todos os sentidos. Logo regressamos a Torrejón (Madri), nosso ponto de partida.



Primeiro passeio de camelo: Shana e eu.




Feira de Marrakesh

















Feira de Marrakesh        





Feira de Marrakesh




Ruas de Marrakesh



Viajamos em duas vans





Hora do almoço dentro da van



Dirigindo entre as montanhas na regiao da Cordilheira dos Atlas
Batendo papo com alguns jovens que vivem na região da Cordilheira dos Atlas    





Alfredo (Espanha), Sagrit (Panamá), Gary (USA) e eu.








































quinta-feira, 29 de agosto de 2013

terça-feira, 12 de março de 2013

GRAVATA NÃO - POR FAVOR! (Brasil 1993)

O ANJINHO VIROU PASTOR

 Era o que se comentava nos vários círculos por onde eu me movia antes de sair do Brasil em Janeiro de 1992. Muitos queriam ver para crer. Eu também queria ver para crer...

Eis que então apareceu o primeiro: um ex-companheiro de trabalho na Ford, o nosso querido Sebastião, filho do "Ve
ínho". Ele veio me visitar logo nos meus primeiros dias em Taubaté. Sentou-se na sala da casa dos meus pais e não sabia sobre o que conversar comigo. "- CARA! sou normal, pode falar!" disse eu as gargalhadas...

Hoje entendo o conflito que ele viveu ali, frente a frente comigo. Em 1997 no Egito, me senti da mesma forma durante uma viagem ao Sinai quando conversei pela primeira vez com uma mulher muçulmana que usava um véu para cobrir todo o cabelo. Foi muito interessante descobrir que ela era tão normal quanto qualquer outra mulher egípcia que não usava o véu e com quem eu tive a oportunidade de conversar.

A transformação não havia ocorrido simplesmente pelo fato de que eu havia me convertido e virado “crentão”, mas sim porque Jesus havia transformado todo o sistema de valores do qual o "Anjinho" se constituía. Naquele ano eu encontrei uma fonte de contentamento que nada neste mundo
é capaz de oferecer.


PRIMEIRA PROVA DE FOGO

A segunda visita foi um pouco mais complicada. Abri o portão e dei de cara com a menina com quem eu havia passado a minha ultima noitada no Éden Motel em 1992. Ela esteve em minha casa alguns meses antes e minha mãe a informou que eu estaria de volta em algum momento em Janeiro. Esta eu não convidei para entrar!

Foram poucos minutos de conversa antes que ela me intimasse a ir ao motel matar as saudades. Eu não consigo lembrar exatamente como a conversa se desenvolveu, mas sei que não fomos ao motel e ela não voltou a me procurar. Nunca mais soube coisa alguma sobre aquela senhorita.


GRAVATA NÃO - POR FAVOR!

Minha famosa gravata do Snoopy.
Como missionário eu queria ter uma Igreja no Brasil que orasse por mim e que apoiasse financeiramente o meu trabalho na Espanha. Assim comecei a visitar várias Igrejas Evangélicas e Católicas a convite de pastores e outros líderes ministeriais. Eles queriam que eu contasse em suas igrejas os fatos que mudaram a minha vida. Para mim foi uma honra enorme poder conhecer várias igrejas, onde me sentia como um instrumento de Deus na minha própria terra.

Curiosamente, uma das minhas maiores irritações com a Igreja Evangélica Brasileira em 1992 era o fato de eu "ter" que ir a Igreja trajando roupa social e gravata, porque assim deveriam vestir-se os "missionários." Esta foi uma postura que eu jamais curti. Eu tinha meu próprio estilo: bermudas, tênis, camiseta, boné e óculos escuros. Este, por sinal, é o meu estilo até hoje e nunca me senti culpado por isto.

Logo que cheguei à JOCUM uma das primeiras coisas que me surpreenderam sobre as pessoas com quem comecei a conviver, era que eles eram "normais." Hoje ser crente é super "cool", mas nos anos 80 e inicio dos anos 90 não era bem assim. Creio que foi a Igreja Renascer em Cristo, de São Paulo, que nos anos 90 começou a mudar a cultura evangélica e a percepção de que crente não pode usar bermudas, crente não pode cortar os cabelos, crente não pode jogar futebol, crente não pode isso ou aquilo.


Enfim, usei gravata onde havia necessidade de usá-la e passei a respeitar este aspecto da cultura evangélica brasileira apesar de discordar dela. Hoje vejo que aquela forma de se vestir nada mais era do que parte de um código de ética na maioria das igrejas evangélicas no início dos anos 90.



SEGUNDA PROVA DE FOGO

Ao entrar em um banco no centro de Taubaté, eis que meus olhos avistam a única mulher que eu havia realmente amado ate aquele momento: a Janaína. La estava ela, sentada na sua mesa de escritório, trabalhando. Imediatamente tive que tomar algumas decisões:
  1. Prossigo ou dou meia volta? Prossigo.
  2. Falo com ela, ou faco de conta que não a vi? Falo com ela.
  3. A convido para almoçar ou somente falo de negócios? Negócios, nada mais.
Assim foi. Conversamos brevemente e logo fui embora. A experiencia foi dura, mas eu havia passado pela prova e sabia que eu realmente havia sido restaurado em meu coração (Leia "Porque eu sai do Brasil em 1992?"). Por muitos anos depois que o nosso namoro terminou em 1987, eu vivi um vazio emocional e sentimental muito grande. Eu não conseguia me perdoar por ter perdido a Janaina e sofri com uma depressão que me abatia de tempos em tempos... mas agora não. Nunca mais.

Eu e a Janaína nos vimos outras vezes nestes últimos 21 anos. Alias, em uma das vezes que estive no Brasil eu a procurei, pois creio que Deus havia me convencido de que eu precisava escrever uma carta para ela. Escrevi a carta e entreguei para sua mãe. Horas depois, enquanto andava pela rua Bahia, ela passou de carro, parou e me deu um abraco. Aproveitei a oportunidade para pedir perdão pessoalmente por tê-la magoado tanto com minha infidelidade no ultimo ano do nosso namoro.

Hoje admiro a Janaína e desejo a ela tudo do melhor que Deus tem para ela e sua família.


SURPRESA GERAL: O MISSIONÁRIO É UM CARA NORMAL!

Aos 21 anos de idade eu não me sentia mais especial do que ninguém porque somente eu e Deus conhecíamos o tamanho da corrupção do meu coração. Por isso eu não queria me esconder atrás da gravata e passar uma aparência de maturidade e santidade que eu não tinha. Eu vivia a mesma luta que todos os jovens da minha idade: meus hormônios entravam em erupção ao ver uma mulher atraente!

Mas comecei perceber que este era um fato inevitável: as pessoas já não me viam da mesma forma e devido às experiências que eu havia vivido era necessário que eu agisse com certa maturidade, devido a responsabilidade que me havia sido dada, não por homem nenhum, mas por Deus.

Deus fez de mim um missionário aos 21 anos de idade. Ele decidiu me outorgar responsabilidades sabendo das minhas fraquezas e limitações. Mas encontrou no Adriano de 1992 um coração aberto, disponível, desprendido, e muito necessitado de Deus.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O MEU ATOS 1:8 - MISSÃO DADA, MISSÃO CUMPRIDA!

Na minha concepção: Se eu podia ser missionário, qualquer um podia.

Eu havia aprendido que ser missionário é uma consequência natural de ser um Cristão, pois todo aquele que inicia uma caminhada com Jesus e recebe o mandato de ser testemunha, eventualmente será enviado a um amigo, parente, vizinho, colega de trabalho, e até mesmo a um desconhecido. Quem nunca teve a oportunidade de mostrar a alguém o caminho por onde deve andar? Consolar uma pessoa aflita? Oferecer uma palavra de conforto ou um abraço solidário?

"Mas receberão poder, quando o Espírito Santo vier sobre vocês, e então serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a região da Judeia e Samaria e também pelos quatro cantos do mundo."


A Lidi e eu em 1979
Geralmente o missionário começa em sua "Jerusalém", mas por alguma razão, no meu caso eu havia começado "nos quatro cantos do mundo." Agora eu estava na minha Jerusalém e dentro da minha própria casa havia grande necessidade.

A Lidiane, minha irmã, nasceu quando eu tinha 4 anos de idade. Eu ainda me lembro da ansiedade que antecedeu a sua chegada e a alegria que ela trouxe à nossa casa. Os anos se passaram, e ao regressar ao Brasil a encontrei vivendo uma vida sem propósito e sem direção. Eu já vinha pedindo a Deus que me desse a oportunidade de ser um missionário na minha Jerusalém, ou seja, dentro da minha própria casa. 

O que aconteceu em seguida, você terá a oportunidade de ler nas palavras dela mesma:  
  


" Ficamos muito felizes com a chegada do Adriano no começo de 1993, tanto tempo sem nos encontrarmos. Além da saudade havia ainda a expectativa de revê-lo depois do seu encontro com Jesus. Falávamos sempre por cartas, ele sempre mandava notícias, mas nada melhor que estar juntos olhando nos olhos. Para toda a família foi difícil passar tanto tempo longe, mas Deus estava nos dando um tempo precioso com sua vinda.
Para mim particularmente foi um tempo preparado por Deus. O Adriano sempre foi um irmão muito presente, um companheiro de brincadeiras apesar da diferença de 4 anos que temos, até na bagunça ficávamos juntos, vê-lo transformado e buscando a Deus foi muito bom.
No sábado, dia 27 de Março de 1993 eu e o Adriano tivemos um momento que pra mim será inesquecível. Naquela noite o Adriano me convidou para ir a uma Igreja a qual ele ainda não conhecia e foi super legal. Ao voltarmos para casa, eu abri meu coração e enquanto conversávamos no quarto dele, expus todas as angústias que eu estava vivendo. Então ele fez uma pergunta que veio de encontro ao anseio do meu coração, uma pergunta que moveu algo dentro de mim: - Você quer entregar sua vida a Jesus?
Nos últimos 2 anos eu sempre me sentia constrangida com isso, eu pensava em tomar essa decisão, meu coração queria, mas minha carne colocava empecilhos. O medo de ser rejeitada era grande, mas naquela noite tudo foi diferente.
Algo dentro de mim reviveu e eu disse SIM! Foi o SIM mais importante de toda a minha vida! 
Então ele orou comigo e me entreguei a Jesus, pedindo a Ele que viesse fazer Sua vontade na minha vida... Que noite foi aquela! 
Eu não tinha ideia do que viria a seguir, mas a partir desse dia a solidão interior que me perseguia simplesmente se foi e nunca mais voltou.
Minha decisão por Jesus foi muito consciente e eu sabia que não voltaria atrás. Eu não conhecia esse Caminho, mas queria com todas as minhas forças andar por Ele!"


Casamento do Lidiane em 1996
Assim a missão se cumpria em "Jerusalém" e em algumas semanas eu regressaria aos "quatro cantos da terra" (Espanha) e a Lidiane continuaria indo aos cultos na Comunidade da Graça de Taubaté. Continuei acompanhando os seus passos e animando-a a permanecer. 

Segundo a Lidiane: - "Realmente essa visita do Adriano valeu a pena!" pois na comunidade ela não somente cresceu no conhecimento de Deus, mas tambem conheceu aquele que seria seu marido 3 anos depois.

Na foto ao lado (1996) eu e a Lidiane tivemos um momento muito especial após a cerimônia do seu casamento. Neste exato momento, ela me agradecia por ter sido sensível a ela 3 anos atrás e por tudo o que havia acontecido na vida dela depois daquele dia, culminando naquele momento tão especial.

Amo muito minha irmã e sinto muito orgulho de vê-la hoje. Assim como eu, a Lidiane nunca mais foi a mesma depois daquele 27 de Marco de 1993.

Em breve: mais historias da minha primeira visita ao Brasil.






quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

21 Anos se Passaram. Feliz Aniversário pra Mim!

Vinte e um anos se passaram desde de que sai sem rumo e sem destino... Uma vida inteira.


Formatura na JOCUM Madrid 1993
Na minha ultima postagem, "Em Time que esta Vencendo Não se Mexe!", eu conto como vivi intensamente os momentos que antecederam o meu primeiro retorno ao Brasil.

Em 1992 fui aprendendo aos poucos que nesta vida existem duas maneiras de se conseguir as coisas: Sozinho, por meus próprios esforços (sempre mais difícil); ou em colaboração com Deus (exige paciência. Deus geralmente não tem pressa). Em colaboração com Deus minha viagem se tornou realidade:
1. Trabalhei em um restaurante (minha parte)
2. Recebi varias doações $ (parte de Deus)
3. Recebi a ajuda para uma passagem mais barata (parte de Deus)
O bom de colaborar com Deus é que Ele SEMPRE faz as partes mais difíceis.   
    
Ao sair de Madrid, havia muita ansiedade em meu coração. Além das saudades e o desejo enorme de segurar minha mãe nos meus braços, eu tinha muita história pra contar, pois eu voltava ao Brasil completamente diferente. O ano de 1992 tinha sido um ano muito intenso, onde tomei decisões que mudaram minha vida para sempre.
 
Mas a pergunta que estava no ar era a seguinte: "- Será que eu havia mudado mesmo? Será que eu seria capaz de manter a mesma postura moral de volta ao meu "habitat natural"? Há pouco mais de um ano, a minha vida era "balada e motel" e agora, o Anjinho andava dando uma de Anjo: virou crente e pregador da Palavra..


Depois de uma parada em Caracas na Venezuela, faltavam apenas algumas horas para que eu aterrizasse em Cumbica. 

Já no aeroporto de Guarulhos, meu coração batia muito forte dentro do peito. Passei pela alfândega o mais rápido possível e logo encontrei meu pai e minha irmã, Lu. Nem preciso dizer que derramamos muitas lágrimas de alegria... Como mencionei na postagem "Tirando a Tranqueira da Bagagem" eu e meu pai tínhamos resolvido questões pendentes no nosso relacionamento através de cartas, gravações em fitas cassete, e através de
conversas telefônicas, mas agora estávamos frente à frente... Foi muito emocionante. Não há como descrever.     

Recentemente a Lu descreveu desta maneira a emoção da expectativa da minha chegada:
 

"Não me lembro exatamente que dia era, mas devo ter registrado em algum diário que talvez não exista mais. Sei que enquanto meu irmão Adriano estava longe, eu me sentia insegura nas nuvens que se levantavam ao meu redor. Apesar da diferença de 10 anos, temos muito em comum, e ele era quem aqui me ouvia, me incentivava a conquistar, me defendia! Eu dizia pra Deus:" Traz meu irmão de volta! Eu sei que o Senhor quis levá-lo para longe, mas eu preciso dele aqui agora!" Quando soubemos de que viria, minha alegria foi instantânea, não via a hora de poder abraçá-lo e dizer: "Que bom que vc está aqui, Diá!"
Não sei explicar em palavras o tamanho da alegria de revê-lo, mas sei que mesmo que por um curto período, eu poderia me sentir mais segura e compreendida!"

De volta a casa em 1993

Sei que ter saído de casa foi muito duro para todos, mas eu sabia que precisava ter um cuidado especial com a Lu, pois ela tinha somente 10 anos de idade quando eu sai em 1992. Ainda me lembro vividamente do seu rosto cheio de lagrimas no dias 19 de Janeiro de 1992 quando eu me despedi dela no aeroporto, momentos antes do meu embarque para Madri... esta é uma imagem que jamais esquecerei. 


O meu reencontro com minha mãe, em Taubaté, foi o mais emocionante. Senti uma dor muito forte ao vê-la, pois minha mãe havia envelhecido muito em apenas 12 meses. Sei que a distância e o tempo foram muito difíceis para ela, tanto que ela chorou pela minha ausência quase diariamente naquele primeiro ano em que estive na Espanha.

As irmãzinhas e eu em 1993

Naqueles primeiros dias em Taubaté eu vivi emoções que logo se tornariam uma tradição nos 20 anos seguintes: rever minha família, comer arroz e feijão da minha mãe, tomar guaraná, andar pelas ruas do Jardim California e Vila São Geraldo (reparando nas constantes mudanças na arquitetura do lugar onde cresci)..



Enfim, há muito o que contar sobre os quase três meses que estive em Taubaté. Prometo a você, leitor deste colaborador do Tangram das Idéias, que na próxima semana aqui estará um resumo interessante da minha estadia no Brasil no ano de 1993.