Vou ser sincero...
Antes de começar a contar tudo o que a ETED significou na minha vida, creio que é importante que você - leitor desta coluna - entenda quem entrou naquele prédio no dia 16 de marco de 1992. Para isso, quero contar algumas histórias que marcaram a minha vida e me fizeram ser quem eu era até aquele dia.
O Travesso

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Eu (7) |
Mas a pior de todas as travessuras aconteceu em uma excursão ao Museu do Ipiranga em São Paulo. Por alguma razão que até hoje eu não consigo entender porque, eu entrei em várias carruagens em exposição no museu. Carruagens raríssimas da época dos Dom Pedros. Também subi em uma Pia Batismal, onde o Padre Anchieta batizou crianças indígenas quando chegou no Brasil em 1554... A professora ficou sabendo e jurou que jamais me levaría em outra viagem da escola.
O Mentiroso

A mentira é um inimigo feroz com quem luto incessantemente, diariamente. Mas nem sempre foi assim. Por muitos anos eu abracei a mentira como um verdadeiro subterfúgio. Por mais elaborada que fosse a mentira, havia uma pessoa que eu era incapaz de enganar: minha mãe. A mentira foi a maneira de lidar com meus temores, passar a impressão de que eu era quem eu queria ser. A mentira foi a maneira de colocar as atenções sobre mim. A mentira foi a maneira de sair de situações delicadas. A mentira foi a maneira de sair de relacionamentos desgastados, mas também a maneira de me manter em vários de uma só vez. Em um determinado momento da minha vida, eu namorei três meninas de uma so vez por um período de um pouco mais de três meses: tudo na base da mentira. Mentí até que não pude mais viver com a mentira. Cansei e terminei o namoro com todas.
O Ladrão
Tem um ditado que diz que "a miséria adora uma má companhia..." Além de mentiroso eu também era ladrão. Roubava dinheiro dos meus pais desde os nove anos de idade. Aos 13 comecei a roubar dinheiro de uma família de vizinhos que moravam próximos da minha casa. Eu tinha liberdade total de entrar para brincar com meu amigo e por coincidência descobri onde o dinheiro da casa era guardado. Foram meses roubando daquela família, até que de alguma maneira fui pego. Olhando para trás vejo que o pior de tudo foi que eu sinceramente os amava e que os meus atos praticamente colocaram um ponto final naquela amizade de infância. Graças à Deus alguns anos depois a amizade foi restaurada e guardo muito carinho por eles. Também aprecio muito o perdão que eles me estenderam.
As Drogas

O Sexo
Eu vivia em um mundo de fantasias sexuais desde os 13 anos de idade. Eu não descobri a gravidade da minha situação até que eu sai do Brasil e optei pela abstinência. Não entendo a extensão da minha dependência emocional e psicológica, mas com o passar dos anos, muito do meu tempo, dos meus recursos e das minhas energias era voltado para satisfazer minha necessidade sexual. Arlete Gavranic, educadora e terapeuta sexual, explica que "o compulsivo vira escravo da necessidade de sexo. Não necessariamente o sexo vivido dentro do contexto de uma relação amorosa e íntima, onde exista prazer por estar com alguém. O vicio em sexo é extremamente egoísta e implica no desenvolvimento de uma vida dupla onde suas ações são mantidas em sigilo." Mas a coisa poderia ter sido muito pior se eu tivesse me envolvido com pornografia. Meus pais nunca permitiriam materiais pornográficos em casa - eu respeitei. A pornografia impede que o homem possa jamais experimentar a verdadeira intimidade. Outra coisa pela qual hoje dou graças a Deus por jamais haver me envolvido é o homossexualismo. Em um determinado momento da minha adolescência, ter uma relação homossexual era coisa para "comedor," pois "comedor come o que passa pela frente..." mas eu não cai nessa, achava e acho nojento.
Independência ou Morte!
Aos 18 anos pedi minha emancipação, ou seja, que meus pais assinassem em cartório minha independência e me dessem os direitos que somente alcançaria aos 21 anos de idade. Como disse antes, nunca pedi permissão para sair do Brasil - simplesmente avisei que estava indo embora dentro de 12 meses. Como é que os meus pais me aguentaram? Realmente não entendo.
Religião Não
Cresci católico. Fui coroinha no Convento Santa Clara (onde ganhei o apelido de Anjinho) até a minha adolescência quando fui seduzido pela vida de pecador assumido. Na mesma época, meus pais se converteram a Igreja Evangélica e as coisas que aprendi na convivência com meus pais, me levaram a rebelar-me contra a Igreja Católica. Por anos fui anti-religião, pois era a maneira mais fácil de fazer o que eu queria fazer sem ter que prestar contas dos meus atos à Deus. Por outro lado, minha visão de crente em 1992 era a do típico Assembleiano do início dos anos 90: Não pode jogar futebol, não pode usar shorts, não pode assistir televisão, não pode - não pode - não pode!
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Anos depois, em uma das viagens de regresso ao Brasil, um vizinho de muitos anos conversava comigo no portão de sua casa e me disse algo que me marcou profundamente. Ele me disse: "- Adriano, eu não dava um centavo por você. Para mim, você era um caso perdido, sem futuro nenhum na vida. Mas hoje você é um verdadeiro vencedor e eu tenho orgulho de você." O Toninho da Lucila não faz idéia do quanto aquelas palavras marcaram a minha vida - para sempre - porque o que ele disse era a mais pura verdade: eu possuía um potencial tremendo para me meter em encrencas. Estava realmente em rota de destruição. Mas sim haviam alguns fundamentos bons em mim, pela educação dada por meus pais, o que incluía religião. Mais tarde fui descubrir que a religião tinha pouco a me oferecer...
Quando sai do Brasil rumo a Espanha levei comigo esta bagagem e quando entrei na JOCUM para fazer a ETED, pouco a pouco essas tranqueiras foram saindo a luz...