quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

EGITO: Confusão e Caos na Praça da Liberdade

Quero abrir um parêntesis aqui para escrever um pouco sobre o que esta acontecendo no Egito nas últimas duas semanas. Em seguida continuaremos dando sequência ao tema que abriu a “Coluna do Adriano.”

Tenho laços muito fortes com o país e o povo egípcio. Durante os anos que passei na Espanha, conheci vários egípcios. Confesso que minha admiração inicial era pelo fato de estar diante de pessoas oriundas da terra das pirâmides, dos faraós, das histórias Bíblicas do livro de Êxodo, Moisés, Mar Vermelho, etc. Mas logo percebi que amar o povo egípcio é muito fácil para nós brasileiros, pois nossas culturas são um interessante paradoxo com muitas semelhanças na maneira como nos relacionamos e amamos as pessoas, como amamos viver a vida, fazer festa, etc. Mas ao mesmo tempo, nossas diferenças culturais em termos de língua, religião e outros costumes são imensas.
Mas foi em 1997 que nasceu o meu amor pelo Egito. Naquele ano fiz as minhas malas e embarquei para o Egito com o propósito de lá ficar durante aquele ano, aprendendo sobre a cultura, a língua, e os costumes do povo árabe (eu regressaria ao Egito várias vezes nos anos seguintes, dando continuidade ao trabalho lá iniciado naquele ano - mais sobre o meu tempo no Egito em posts futuros).
Durante aquele ano, eu trabalhei com várias comunidades, principalmente no Cairo e na Alexandria. Edifiquei amizades com muçulmanos e cristãos, amizades que certamente durarão para sempre. Por isso, tenho acompanhado atentamente tudo que tem acontecido no Egito e sofrido com suas aflições.
Este movimento espontâneo liderado em sua grande maioria, pela juventude egípcia, nasceu nas redes sociais (Facebook e Twitter) e resultou no que se tem visto nos últimos 15 dias, principalmente na cidade do Cairo. Milhares de Egípcios se reúnem diariamente em protesto pelas condições sociais, econômicas e políticas do país.
De acordo com um email que eu recebi de uma amiga no Cairo, “...os protestos começaram de maneira civilizada e segura em varias cidades no Egito com reivindicações por melhores condições de vida, segurança, trabalho e educação. Mas logo a policia começou a atacar violentamente, a internet e os telefones celulares foram bloqueados. Pessoas começaram a morrer nas ruas. De repente a policia desapareceu e o caos tomou conta das ruas com a fuga de 17.000 presidiários soltos nas ruas do Cairo.”

El Tahrir (Praca da Liberdade), onde milhares de pessoas tem se reunido para
protestar contra o governo do presidente Hosni Mubarak

Eu fiquei aqui pensando: - Como seria ter que proteger minha família pelas minhas próprias forças - por falta de opção? Um outro amigo relatou sua própria experiência: “ – Não durmo há 9 dias, pois temos que montar guarda na rua dia e noite. Já são oito o numero de marginais que impedimos de entrar na nossa rua. Temos que estar vigilantes porque os fugitivos têm atacado pessoas nas ruas e invadido casas para roubar e estuprar. A comida acabou em casa e esta difícil de encontrar para comprar na rua. Tudo o que podemos fazer é orar!”

Outra preocupação expressada em um dos emails que recebi é quanto ao futuro político do país. O desejo da sociedade egípcia é por um país secular, onde haja liberdade para se escolher seus governantes e liberdade religiosa. Mas já se cogita que radicais muçulmanos se preparam para aproveitar a oportunidade e transformar o Egito em algo parecido ao Irã.

Mas no meio de todo este caos, o povo egípcio tem se abraçado. Num país onde a segregação social, baseada na religião, é intensa, Muçulmanos e Cristãos têm se unido e se ajudado mutuamente. Outro amigo relata como as pessoas de sua Igreja têm se mobilizado para compartilhar uma mensagem de esperança com seus vizinhos muçulmanos – os quais antes eram meros desconhecidos. Ele também conta como as pessoas têm se disponibilizado para organizar o tráfego nas ruas, prestar primeiro socorros, etc.
No vídeo abaixo, uma cena inimaginável anos atrás. Moheb e meu amigo Maged - o mesmo que aparece comigo na foto acima), na famosa praça Tahrir, onde milhares de pessoas se reuniram no dia 4 de Fevereiro para o "Million Men March." Naquele dia, pobres e ricos, jovens e idosos, Cristãos e Muçulmanos cantaram juntos: “Que a paz e o governo de Cristo seja estabelecido aqui. Que Ele venha liberar os fracos e ouvir o clamor do Seu povo. Bendito seja o Egito, meu povo.”


Paz e reconciliação entre Muçulmanos e Cristãos egípcios.
Desde 2010, a Igreja no Egito vinha se preparando para um "grande acontecimento" - eles somente não sabiam de que se tratava. Um amigo me contou que no final do ano passado, 1200 Cristãos de sua Igreja fizeram um jejum de 40 dias por seu país.

Ninguém sabe prever como ou quando tudo isto vai acabar, ou o que vai resultar de tudo isto, mas uma coisa é certa: o Egito jamais será o mesmo. O que vemos na TV e na internet é um povo apaixonado por suas famílias e por seu país. Um povo orgulhoso por sua cultura milenar, despertando após décadas de um longo pesadelo para reivindicar dias melhores e o direito de eleger seu governantes.

Um comentário:

  1. Obrigada Adriano pelo post bem informativo.
    Viva o Egito! Mubarak stepped down!
    Deus abençoe aquela terra, onde Jesus viveu por alguns anos quando era bem pequenino.

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