Nesta semana eu recebi um email de uma amiga que esteve presente nas manifestações que levaram à queda do regime do Presidente Hosni Mubarak, no Egito. Neste email ela relata brevemente sobre o preço pago pelo povo egípcio para conquistar esta vitória histórica, mas também como estes dezoito dias afetaram sua própria vida e de sua família.
Anos atrás quando conheci R, ela ainda era uma jovem universitária, na cidade do Cairo. Hoje, R é casada com A (quem ainda não tive o prazer de conhecer) e é mãe de uma linda menina, M.
Estou postando esta história porque estes relatos me comoveram. Esta talvez seja a história de muitas outras valentes mulheres Egípcias: (O email que ela me enviou foi traduzido com permissão).
"Caro Adri,
"Caro Adri,
Muito obrigado pelo cuidado conosco durante as semanas de revolução aqui no Egito. Eu queria te escrever, mas eu meu tempo estava muito limitado, até mesmo para estar com minha filha durante os eventos.
Estive presente nos protestos desde o início e presenciei toda a brutalidade das forças policiais naqueles primeiros dias, o que fez o povo egípcio tornar-se ainda mais determinado e persistente em levar a revolução até o fim. Você não pode imaginar como foi tudo isso... A policia respondeu ao nosso movimento pacífico, jogando contra nós bombas de gás lacrimogêneo, mangueiras de jato d'água e balas de borracha - atacando sobretudo a linha de frente. Nossa resposta foi cantar todos juntos "Selmiya Selmiya (PAZ! PAZ!).
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Praça Tahrir, Cairo - Egito. |
Enquanto isso acontecia lá na frente, eu ficava na retaguarda das manifestações. Que Deus abençõe as almas de todos os mártires e cure as feridas das famílias que perderam seus entes queridos. Com certeza os que derramaram suas vidas por nossa liberdade encontrarão seus lugares no céu.
Claro que eu temia por minha própria vida todos os dias quando saía de casa para apoiar as manifestações. Mas eu colocava esses sentimentos diante de Deus e pedia a Ele, no meu coração, para que Sua vontade fosse feita. Apesar do meu desejo de voltar para a minha filha e meu marido em segurança, eu sabia que mesmo se eu morresse, Deus guardaria a minha família com seus olhos misericordiosos.
Ainda não consigo entender a bravura daqueles que se colocaram nas linhas de frente. Eles confrontaram as balas do regime sem nenhuma proteção, com seus peitos desprotegidos mas cheios de coragem. Deus abençoe a todos!
Meu marido, participou das unidades de proteção civil, guardando nossas casas de ataques de assaltantes e bandidos. Durante as noites, ouvíamos os tiros nas ruas. Minha filha chorava porque tinha medo e queria que seu pai estivesse conosco em casa. Para acalmá-la eu cantava com ela e lia o Alcorão até que ela dormisse. Acredito que agora as pessoas se sentem mais seguras e livres pela primeira vez em muitos anos.
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R, A e sua filha M. |
Creio que escrevi muito e talvez até te dado uma dor de cabeça. Obrigada querido amigo pelo seu apoio, cuidado e preocupação. Eu realmente espero vê-lo em breve, mas desta vez queremos recebê-lo em um país "democrático" - quem sabe em uma República Democrática do Egito :)
Por favor, envie uma saudação carinhosa a sua esposa e filhos. Saudade de você, meu amigo!"
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