terça-feira, 12 de março de 2013

GRAVATA NÃO - POR FAVOR! (Brasil 1993)

O ANJINHO VIROU PASTOR

 Era o que se comentava nos vários círculos por onde eu me movia antes de sair do Brasil em Janeiro de 1992. Muitos queriam ver para crer. Eu também queria ver para crer...

Eis que então apareceu o primeiro: um ex-companheiro de trabalho na Ford, o nosso querido Sebastião, filho do "Ve
ínho". Ele veio me visitar logo nos meus primeiros dias em Taubaté. Sentou-se na sala da casa dos meus pais e não sabia sobre o que conversar comigo. "- CARA! sou normal, pode falar!" disse eu as gargalhadas...

Hoje entendo o conflito que ele viveu ali, frente a frente comigo. Em 1997 no Egito, me senti da mesma forma durante uma viagem ao Sinai quando conversei pela primeira vez com uma mulher muçulmana que usava um véu para cobrir todo o cabelo. Foi muito interessante descobrir que ela era tão normal quanto qualquer outra mulher egípcia que não usava o véu e com quem eu tive a oportunidade de conversar.

A transformação não havia ocorrido simplesmente pelo fato de que eu havia me convertido e virado “crentão”, mas sim porque Jesus havia transformado todo o sistema de valores do qual o "Anjinho" se constituía. Naquele ano eu encontrei uma fonte de contentamento que nada neste mundo
é capaz de oferecer.


PRIMEIRA PROVA DE FOGO

A segunda visita foi um pouco mais complicada. Abri o portão e dei de cara com a menina com quem eu havia passado a minha ultima noitada no Éden Motel em 1992. Ela esteve em minha casa alguns meses antes e minha mãe a informou que eu estaria de volta em algum momento em Janeiro. Esta eu não convidei para entrar!

Foram poucos minutos de conversa antes que ela me intimasse a ir ao motel matar as saudades. Eu não consigo lembrar exatamente como a conversa se desenvolveu, mas sei que não fomos ao motel e ela não voltou a me procurar. Nunca mais soube coisa alguma sobre aquela senhorita.


GRAVATA NÃO - POR FAVOR!

Minha famosa gravata do Snoopy.
Como missionário eu queria ter uma Igreja no Brasil que orasse por mim e que apoiasse financeiramente o meu trabalho na Espanha. Assim comecei a visitar várias Igrejas Evangélicas e Católicas a convite de pastores e outros líderes ministeriais. Eles queriam que eu contasse em suas igrejas os fatos que mudaram a minha vida. Para mim foi uma honra enorme poder conhecer várias igrejas, onde me sentia como um instrumento de Deus na minha própria terra.

Curiosamente, uma das minhas maiores irritações com a Igreja Evangélica Brasileira em 1992 era o fato de eu "ter" que ir a Igreja trajando roupa social e gravata, porque assim deveriam vestir-se os "missionários." Esta foi uma postura que eu jamais curti. Eu tinha meu próprio estilo: bermudas, tênis, camiseta, boné e óculos escuros. Este, por sinal, é o meu estilo até hoje e nunca me senti culpado por isto.

Logo que cheguei à JOCUM uma das primeiras coisas que me surpreenderam sobre as pessoas com quem comecei a conviver, era que eles eram "normais." Hoje ser crente é super "cool", mas nos anos 80 e inicio dos anos 90 não era bem assim. Creio que foi a Igreja Renascer em Cristo, de São Paulo, que nos anos 90 começou a mudar a cultura evangélica e a percepção de que crente não pode usar bermudas, crente não pode cortar os cabelos, crente não pode jogar futebol, crente não pode isso ou aquilo.


Enfim, usei gravata onde havia necessidade de usá-la e passei a respeitar este aspecto da cultura evangélica brasileira apesar de discordar dela. Hoje vejo que aquela forma de se vestir nada mais era do que parte de um código de ética na maioria das igrejas evangélicas no início dos anos 90.



SEGUNDA PROVA DE FOGO

Ao entrar em um banco no centro de Taubaté, eis que meus olhos avistam a única mulher que eu havia realmente amado ate aquele momento: a Janaína. La estava ela, sentada na sua mesa de escritório, trabalhando. Imediatamente tive que tomar algumas decisões:
  1. Prossigo ou dou meia volta? Prossigo.
  2. Falo com ela, ou faco de conta que não a vi? Falo com ela.
  3. A convido para almoçar ou somente falo de negócios? Negócios, nada mais.
Assim foi. Conversamos brevemente e logo fui embora. A experiencia foi dura, mas eu havia passado pela prova e sabia que eu realmente havia sido restaurado em meu coração (Leia "Porque eu sai do Brasil em 1992?"). Por muitos anos depois que o nosso namoro terminou em 1987, eu vivi um vazio emocional e sentimental muito grande. Eu não conseguia me perdoar por ter perdido a Janaina e sofri com uma depressão que me abatia de tempos em tempos... mas agora não. Nunca mais.

Eu e a Janaína nos vimos outras vezes nestes últimos 21 anos. Alias, em uma das vezes que estive no Brasil eu a procurei, pois creio que Deus havia me convencido de que eu precisava escrever uma carta para ela. Escrevi a carta e entreguei para sua mãe. Horas depois, enquanto andava pela rua Bahia, ela passou de carro, parou e me deu um abraco. Aproveitei a oportunidade para pedir perdão pessoalmente por tê-la magoado tanto com minha infidelidade no ultimo ano do nosso namoro.

Hoje admiro a Janaína e desejo a ela tudo do melhor que Deus tem para ela e sua família.


SURPRESA GERAL: O MISSIONÁRIO É UM CARA NORMAL!

Aos 21 anos de idade eu não me sentia mais especial do que ninguém porque somente eu e Deus conhecíamos o tamanho da corrupção do meu coração. Por isso eu não queria me esconder atrás da gravata e passar uma aparência de maturidade e santidade que eu não tinha. Eu vivia a mesma luta que todos os jovens da minha idade: meus hormônios entravam em erupção ao ver uma mulher atraente!

Mas comecei perceber que este era um fato inevitável: as pessoas já não me viam da mesma forma e devido às experiências que eu havia vivido era necessário que eu agisse com certa maturidade, devido a responsabilidade que me havia sido dada, não por homem nenhum, mas por Deus.

Deus fez de mim um missionário aos 21 anos de idade. Ele decidiu me outorgar responsabilidades sabendo das minhas fraquezas e limitações. Mas encontrou no Adriano de 1992 um coração aberto, disponível, desprendido, e muito necessitado de Deus.

2 comentários:

  1. Dri,
    Eu acredito que nada é por acaso nesta vida... E tenho certeza que tudo o que aconteceu na sua vida foi para o seu próprio bem! Tenho orgulho da sua história e uma grande alegria por saber que toda esta transformação pela qual você passou não mudou a sua essência, pois, ao longo desses anos, todas as vezes que te vi eu enxerguei no fundo dos seus olhos o mesmo amigo de sempre, apenas com novos valores e mais maturidade! Agradeço a Deus por termos mantido a nossa amizade, apesar da distância e do tempo que nos separam, mas a nossa sintonia, confiança, cumplicidade e o carinho que temos um pelo outro é o mesmo desde o dia que nos conhecemos (você sabe como... rs).
    Parabéns por sua trajetória! E sucesso sempre!!
    Um grande beijo!

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  2. Oi Adriano, interessante este seu começo e que bom que vc continuou aberto para falar da transformação pela qual vc passou.
    Vc deveria ter ido à minha igreja, pois lá nunca teve isso de gravata. Sempre fui de igreja (chamada) historica e por isso posso dizer que não foi a Renascer que tirou a gravata do púlpito.

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